Tecnologia turbina empregos em cidades médias do País

Municípios de médio porte são os que tiveram maior alta proporcional na criação de vagas; tecnologia levou Osasco (SP) e Novo Hamburgo (RS)ao topo do ranking

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O crescimento do emprego formal no ano passado apresentou uma particularidade. Cidades de médio porte, que começam a investir na atração de empresas de tecnologia, se saíram melhor, em termos porcentuais, do que a maioria das grandes capitais e cresceram mais do que a média do País todo.

Levando-se em conta as maiores cidades do País com os maiores estoques de vagas - total de empregos formais -, as campeãs, em porcentual, na criação de empregos (diferença entre contratações e demissões) foram Osasco (SP), com alta de 16% em relação a 2020 e saldo de 24 mil empregos, e Novo Hamburgo (RS), com alta de 12% e saldo de 7,74 mil postos.

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O total de vagas no Brasil registrou crescimento de 7% no ano passado, com a geração de 2,7 milhões de empregos com carteira assinada.

Osasco quer se tornar polo de tecnologia e já atraiu mais de 10 empresas do setor Foto: Tiago Queiroz/Estadão

As duas líderes tiveram os desempenhos puxados pelo segmento de tecnologia, que deslanchou durante a pandemia com as vendas onlineserviços de entregacall centers e infraestrutura para o home office.

Dentro desse recorte, dos 20 municípios com maior crescimento listados pelo Caged, cadastro de empregos do Ministério do Trabalho, só quatro são capitais. A mais bem colocada foi Palmas (TO), na 14.ª posição.

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“Esse movimento mostra que o País continua em trajetória de desconcentração de atividade econômica e de geração de mão de obra”, afirma Hélio Zylberstajn, professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA/USP). “Isso é bom porque está distribuindo mais o espaço econômico.”

Já em números absolutos, São Paulo segue no topo, com 336,8 mil vagas abertas, 8,12% a mais do que em 2020, seguido de outras oito capitais: Rio de Janeiro, com crescimento de 4,88%, Belo Horizonte (6,47%), Brasília (7,15%), Curitiba (6,06%), Fortaleza (5,94%), Goiânia (8,01%), Manaus (8,69%) e Salvador (5,69%). 

Incentivos

pandemia e seus impactos orientaram, de certa forma, a abertura de postos de trabalho em 2021. Cidades com elevado índice de empresas de tecnologia e com fabricantes de itens cuja importação ficou mais difícil se saíram relativamente melhores.

O salto das vendas online, dos serviços de entrega e de call centers para dar suporte a esses serviços ajudou Osasco (SP) a ser a cidade que mais cresceu na geração de empregos (ver quadro).

Em 2021, a cidade registrou saldo recorde de 24 mil empregos, informa Gerson Pessoa, secretário de Tecnologia e Desenvolvimento. O resultado é creditado à chegada de grandes grupos de tecnologia que hoje empregam 42 mil pessoas.

Conhecida até poucos anos como capital nacional do calçado, Novo Hamburgo (RS) diversificou suas atividades e hoje tem como maior empregador a SX negócios. A central de atendimento remoto do Santander chegou à cidade na segunda metade de 2020 e emprega agora 4,8 mil pessoas.

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prefeita de Novo Hamburgo, Fátima Daudt, diz que a cidade vem adotando diversas ações para atrair empresas, como a instalação de um Centro de Inovação Tecnológica. Outra medida é a desburocratização para empreendedores. “Para abrir uma empresa em 2016 levavam-se 480 dias; hoje, com o desenvolvimento de um software, se faz em três horas”, diz.

O Centro vai atuar, por exemplo, na formação de mão de obra para empresas de tecnologia e também calçadistas que mantêm na cidade seus centros de desenvolvimento.

A maior fabricante do ramo, a Beira Rio, contratou 500 funcionários em 2021. O grupo tem uma fábrica na cidade e outras nove no Estado. “Em março vamos inaugurar a 11.ª, em Candelária”, informa o presidente da companhia, Roberto Argenta.

“Precisamos ampliar (a produção) para atender tanto ao mercado interno quanto ao externo, que estão exigindo produtos mais elaborados, com mais detalhes e sobreposição de peças, e esses produtos exigem mais mão de obra”, afirma o executivo.

Angenta, da Beira Rio, vai abrir 11ª fábrica do grupo no Rio Grande do Sul Foto: Marcos Nagelstein/Estadão

A nova filial terá 50 trabalhadores diretos, número que deve aumentar para 180 no primeiro ano, além de 1,5 mil terceirizados para costura e montagem dos calçados.

Importados

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 Na avaliação do economista sênior da LCA ConsultoresCosmo Donato, cidades com vocação voltada às indústrias de calçados, têxteis e vestuários também apresentaram bom desempenho. Elas tinham capacidade ociosa e, diante da demanda repentina de diversos produtos, conseguiram atender ao mercado.

“Problemas das cadeias globais de suprimentos, falta de contêineres, de navios e custo alto do frete dificultaram as importações, e a indústria local desses segmentos conseguiu aumentar a produção rapidamente para suprir a carência do mercado internacional e contribuíram com as contratações”, diz Donato.

Franca, maior polo calçadista de São Paulo, ficou na 10.ª posição no ranking com alta de 10,3% nas vagas. Segundo Carlos Tavares, diretor titular regional de Finanças do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), do saldo de 3,66 mil empregos industriais na cidade, 65% vieram da indústria calçadista.