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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|A Argentina sob risco de quebra

País tenta contornar a grave crise econômica que enfrenta, mas as primeiras propostas feitas pelo novo ministro da Economia não passaram firmeza

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Os primeiros anúncios de mudança de política econômica da Argentina não convencem.

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O superministro da Economia, Sergio Massa, que tomou posse dia 3 de agosto, prometeu redução do rombo do governo, emissões zero de moeda e fortalecimento das reservas externas, para o que deverá concorrer o aumento do crédito para exportações.

Mas, como observa o ex-ministro da Produção e do Trabalho Dante Sica, que voltou a dirigir a consultoria Abeceb, não há como saber como serão cumpridas essas metas de ajuste. São propostas que não passam firmeza.

Na última quinta-feira, o Banco Central da República Argentina (BCRA) puxou os juros básicos de 60% para 69,5% ao ano, para combater uma inflação que aponta para 93% ao final de 2022.

Em consequência de medidas econômicas inconsistentes e isoladas tomadas ao longo do governo do presidente Alberto Fernández, mas também de há muito tempo, as incertezas políticas se agravam. O rombo das contas públicas, que é de 1,8% do PIB, e o rombo das contas externas (déficits gêmeos) perderam cobertura porque não há crédito externo e as reservas, que eram de US$ 10 bilhões em 2013, caíram para US$ 2,3 bilhões. O que sobra são emissões de moeda, o que é mais inflação na veia.

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A política destinada a apagar incêndios políticos com subsídios e adiamento indefinido das soluções produziu enorme desalinhamento entre os preços relativos. Por exemplo, no período de dois anos e sete meses terminado em julho, enquanto os preços do pão francês subiram 236,3%, as tarifas de energia elétrica foram corrigidas em apenas 56,3%.

Apesar dos pesares, as projeções são de avanço do Produto Interno Bruto (PIB) em 2022, de 2,7% (em 2021, foi de 10,3%). Mas, as perspectivas para 2023 são de queda.

A perda de confiança dos credores externos fica mais bem demonstrada pelo salto na trajetória do risco Argentina, o “seguro” cobrado sobre os juros dos títulos, que estava a 2.465 pontos porcentuais ao ano no dia 9 de agosto (ou quase 25 pontos porcentuais ao ano acima dos juros internacionais) Este nível caracteriza risco iminente de quebra (default).

A corrida para o dólar blue (câmbio paralelo) saltou de 208 pesos por dólar no fim de 2021 para 292 pesos por dólar nesta quarta-feira – avanço de 40,3% em 2022.

Dante Sica observa que não há condições políticas para um plano de estabilização ortodoxo. Ou Sergio Massa tentará uma correção parcial para a qual usará seus trunfos políticos ou o ajuste será desordenado, o que pode levar à hiperinflação e à recessão – situação que teria desdobramentos políticos hoje imprevisíveis.

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Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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