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Jornalista e comentarista de economia

Opinião | Afinal, qual o limite do progresso?

Para os brasileiros, o Brasil continua sendo o país que constrói seu futuro

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Foto do author Celso Ming
Imagem feita pelo pintor Benedito Calixto Foto: BENEDITO CALIXTO/ACERVO PINACOTECA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Neste aniversário da República, vale tomar como tema do dia o que vai cravado no final da Bandeira Brasileira: Progresso.

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Antes de seguir, cabe lembrar que o significado original das principais cores da bandeira vem dos tempos do Império e não se referem nem ao “verde das nossas matas” nem ao “amarelo do nosso ouro”, expressões que nada têm a ver com o sentido heráldico de sua criação. O campo verde é o da Casa de Bragança, a do Imperador Pedro I; e o losango amarelo, o da Casa de Habsburgo (Áustria), a da Imperatriz Leopoldina. O globo azul com as estrelas substituiu na República o brasão imperial. O lema “Ordem e Progresso” é de inspiração positivista, de grande influência no pensamento do Brasil da época.

A ideia de progresso é relativamente nova na história da humanidade. Toma forma a partir da Revolução Industrial, no século 18. O pensamento antigo partia do pressuposto de que a trajetória humana era progressivamente declinante. Desde Hesíodo (O trabalho e os dias) e Ovídio (Metamorfoses dos Deuses), a história começa com a idade do ouro que, em seguida, vai se deteriorando em prata, bronze, ferro e daí para pior.

Na cultura popular recente do Brasil, é o que vai resumido no verso sempre repetido da canção de Ataulfo Alves: “Eu era feliz e não sabia”. Pressupõe: “Não sou mais feliz”.

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As tentativas de sair dessa para melhor eram desestimuladas por narrativas ancestrais de fracasso: pela história de Ícaro, que pretendia voar e despencou lá de cima ; pela da Torre de Babel, que pretendia arranhar o céu e terminou em confusão; e pelo apelo apolíneo a “nunca passar dos limites”, que era uma das inscrições esculpidas na fachada do Templo de Delfos. Mas qual é o limite?

O avanço da ciência, a descoberta de novas tecnologias, as conquistas da medicina e as do sistema produtivo desembarcaram o homem na lua e, daí, sabe-se lá  onde mais.

Na Idade Média, o avanço da produção e a superação da pobreza eram quase impossíveis. A riqueza não se multiplicava, era o que havia. O poderoso que pretendia aumentar seu patrimônio recorria às guerras, às conquistas e aos saques.

Mas houve a invenção da máquina a vapor, a industrialização, a linha de montagem, a revolução verde, a engenharia genética, a automação, os avanços espaciais, a tecnologia da informação e, agora, a inteligência artificial.

Hoje ninguém admite ficar sem crescimento econômico em nenhum canto do mundo. Para os brasileiros, o Brasil continua sendo o país que constrói seu futuro. Mas a obsessão pelo progresso cobra seu preço.

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Os recursos são esgotáveis. A humanidade está destruindo o planeta; ao mesmo tempo que persegue a imortalidade, inventa máquinas, bombas atômicas, supercomputadores e sistemas que podem destruí-la. Falta saber para onde ir e como. Qual é o limite do progresso?

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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