O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) governará um Brasil mudado. Entre as mudanças estão as condições para o investimento.
O PT sempre optou pelo Estado como maior indutor do desenvolvimento. Mas as precárias condições fiscais são forte obstáculo para cumprir esse traçado. O Tesouro está quebrado, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) trabalha com menos fôlego. Com exceção da Petrobras, as estatais enfrentam fortes restrições de caixa. Mesmo em relação à Petrobras, da qual o PT espera enorme capacidade de investimento em gasodutos, refinarias e energia renovável, é preciso antes saber até que ponto o governo PT está disposto a abrir mão dos dividendos nessa maré de escassez de recursos.
Já que não pode contar com a ordenhadeira do setor público, o novo governo precisa definir até que ponto abrir para o investimento privado, especialmente o estrangeiro.
Oportunidades novas existem, quase em profusão. O mundo atravessa séria crise energética, menos em consequência da guerra na Ucrânia, que expôs a excessiva dependência de suprimentos russos, e mais em consequência da premente necessidade de substituir energia de fonte fóssil pela de fonte renovável. Nesse quesito, o Brasil desponta como forte candidato potencial, não só pelas excelentes perspectivas para as energias de fonte eólica e solar, que avançaram em capacidade instalada, como também pelas de produção de petróleo e gás.

A própria crise energética está a exigir que as grandes empresas transfiram indústrias eletrointensivas – como de alumínio, química básica, cerâmica e vidro – para países com grande disponibilidade energética. Além de grandes empresas, fundos privados parecem fortemente interessados nessas opções para investimento.
A questão principal está em saber se a administração do PT saberá aproveitar essas janelas. Para isso, terá de superar antigas limitações.
A mais importante delas está em garantir uma administração confiável, respeitadora dos contratos e das regras do jogo. A segunda é não insistir, como no passado, em privilegiar supostos futuros campeões nacionais e impor reservas de mercado para capitais nacionais. A terceira consiste em avançar nas reformas de base, especialmente na tributária e na administrativa. Esta última parece fora do projeto PT, porque implicaria mexer nos interesses dos funcionários públicos e no das corporações das estatais.
Não ficou claro nas “diretrizes” que desenharam os projetos de governo no período eleitoral até que ponto o PT tem consciência desse quadro.
A conferir se o exercício do governo levará a isso.