Na última quinta-feira, além das esquisitices, como a de culpar o consumidor que compra produto caro e de acusar o Banco Central de ter armado uma arapuca do câmbio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a atividade econômica (PIB) crescerá neste 2025 entre 3,5% e 3,7%.
Não é para tudo isso que apontam as projeções dos analistas. Eles se dividem em torno dos 2,0% e 2,5%. O último Boletim Focus, do Banco Central, indicou avanço de 2,06%.
Baseiam-se os analistas em dois dados principais da economia: no hiato do produto, ou seja, no fato de que o sistema produtivo está próximo do limite de sua capacidade – o que limita sua expansão; e nos efeitos da política de juros do Banco Central, que reduziu o volume de dinheiro no mercado e encareceu o crédito, com o objetivo de esfriar o consumo e controlar a inflação, fato que aponta para a desaceleração da atividade.
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Se, no entanto, o presidente Lula estiver certo nas suas estimativas, ficará claro que a demanda terá continuado excessivamente aquecida, como esteve ao longo de 2024, e que a política restritiva de juros altos terá sido insuficiente para desacelerar a economia.
Nesse caso, continuará a concorrer para isso o forte dispêndio de recursos públicos.
Ainda não há informações com densidade suficiente para indicar que a demanda não tenha começado a ceder. O emprego de mão de obra continua forte e isso aponta para um mercado de consumo ainda aquecido.

Mas isso não é tudo. Há movimentos nos dois sentidos. A inflação alta no setor de alimentos e dos serviços atua para reduzir o poder aquisitivo do consumidor e, portanto, para segurar a demanda. Em compensação, um dos importantes fatores da alta de preços passou a ser a queda das cotações do dólar em reais, que concorre para reduzir os preços dos produtos importados e dos alimentos e para evitar maiores altas dos combustíveis no mercado interno. Este pode ser elemento que impedirá a corrosão mais forte dos salários.
Apesar desses atenuantes, o Banco Central tem avisado que, pelo menos até meados do ano, a inflação do período de 12 meses corridos estará ultrapassando a meta. E o próprio mercado financeiro vem trabalhando com uma alta de preços não inferior a 5,50%, como também vem mostrando o Boletim Focus.
Na área da produção, pouco se pode contar com uma forte expansão da indústria. Os primeiros resultados do ano são fracos. No entanto, os resultados do agronegócio deverão ser excelentes, com uma safra de grãos recorde, crescimento superior a 8%, tal como apontam os dados da Conab.
Mas PIB não é só produção física; é preço e renda. E a esta altura não se conhecem os efeitos da política protecionista do presidente Trump sobre os preços das commodities agrícolas. O que há é a expectativa de uma redução da atividade econômica ao redor do mundo. Se ela se confirmar, ficará inevitável certa redução dos preços. Na área do petróleo, a queda das cotações já começou a acontecer.