EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Jornalista e comentarista de economia

Opinião | Entenda este impasse

A queda de braço entre o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o Congresso, ou, mais particularmente, as facções mais radicais do Partido Republicano, tem um desfecho ainda imprevisível.

PUBLICIDADE

Publicidade
Foto do author Celso Ming
Atualização:

Para autorizar o aumento do teto da dívida o Partido Republicano está exigindo que o governo americano adie por um ano a expansão do seu Plano de Saúde (Obamacare), o que o Partido Democrata considera inaceitável.

Obama. Queda de braço (FOTO: Jason Reed/Reuters)  Foto: Estadão

PUBLICIDADE

Pode-se apostar em que, como das outras vezes, um acordo afinal será alcançado, provavelmente antes da data fatal, 17 de outubro, quando o Tesouro americano não terá os recursos necessários para dar cobertura ao pagamento de todas as suas contas. Mas aposta não é garantia de sucesso. É preciso medir melhor as implicações de que o pior aconteça.

Tudo começa porque o governo dos Estados Unidos gasta mais do que arrecada. O relativamente baixo desempenho da economia por causa da crise é, por si só, fator de arrecadação mais baixa. O rombo orçamentário anual gira em torno dos US$ 760 bilhões. Para não deixar de honrar seus compromissos, o Tesouro dos Estados Unidos precisa emitir títulos (fazer dívidas). O Congresso impôs um teto para essa dívida. Não pode passar dos US$ 16,7 trilhões, limite atingido em maio. De lá para cá, o Tesouro continua pagando suas contas graças a expedientes extraordinários de caixa que se esgotarão em dez dias. A partir daí, contará com apenas US$ 30 bilhões por dia, provenientes da arrecadação, para despesas totais de aproximadamente o dobro disso.

Em parte para pressionar os políticos e também porque é preciso fazer escolhas, desde 1.º de outubro certas atividades do governo americano foram paralisadas por falta de recursos. Se o impasse continuar, segmentos cada vez mais numerosos da despesa geral acabarão por deixar de ser atendidos. A paralisação ainda que parcial dos pagamentos produzirá impactos na economia americana, tanto mais graves quanto maior for essa paralisação, porque serão menos cheques e menos depósitos em conta que chegarão aos fornecedores, aposentados ou funcionários. Portanto, haverá menos dinheiro circulando, mais gente impossibilitada de pagar suas próprias contas e, portanto, certa redução da atividade econômica dos Estados Unidos, com reflexo na economia global.

Na semana passada, o presidente Obama responsabilizou os políticos republicanos por aquele que poderá ser o primeiro calote da principal dívida do mundo. A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional advertiu, também, para o desastre que aconteceria no mercado financeiro se os Estados Unidos suspenderem o pagamento dos juros de sua dívida. No dia 31 vencerão US$ 6 bilhões.

Publicidade

Seria o suficiente para puxar os juros da dívida americana para cima, fator que aumentaria as despesas e o déficit público dos Estados Unidos. Ficaria, também, alterada a percepção de risco relativo dos ativos no mundo inteiro.

Alguém já falou que as autoridades norte-americanas se comportam como adolescentes que passam rasteiras e voadoras uns nos outros à beira do precipício. Pode ser isso ou pode ser um jeito extravagante (e perigoso) de encomendar uma pizza.

CONFIRA:

 Foto: Estadão

No gráfico, a evolução da dívida pública dos Estados Unidos nos últimos sete anos (até maio de cada ano).

Mecanismos inviáveis. Até o presidente do BNDES, o economista Luciano Coutinho, disse ontem que é preocupante a utilização de mecanismos parafiscais para financiamento de longo prazo. Ele se referiu à emissão de títulos do Tesouro para financiamento de investimentos pelo BNDES e pela Caixa Econômica Federal. "Não são mecanismos estáveis, não são operacionalmente viáveis." Se é assim, por que o governo continua com essa relação incestuosa?

Publicidade

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.