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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|O comércio, mais devagar

Mais um desempenho insatisfatório, a ser tomado como advertência sobre o comportamento da economia.

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Atualização:

Mais um desempenho insatisfatório, a ser tomado como advertência sobre o comportamento da economia.

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Desta vez foram as vendas no varejo. Em dezembro, caíram 2,6% em relação a novembro e o acumulado em todo o ano aumentou apenas 2,2%. Se ao universo pesquisado for acrescentado o comércio de veículos e de materiais de construção (varejo ampliado), os resultados são ainda mais decepcionantes (veja no Confira).

Esses números são de dezembro e perfazem os resultados de 2014. Haverá quem diga que dezembro ficou para trás, que já estamos em meados de fevereiro e que não adianta gastar vela com defunto ruim; o que conta é saber o que vem pela frente.

 Foto: Estadão

Mas, se dezembro é historicamente o melhor mês de vendas no varejo, por que desta vez não mostrou força? Será que presentes de Natal começam a cair em desuso, como os cartões de boas festas, que ninguém manda mais? Ou essas estatísticas estão mostrando um recuo forte na capacidade de consumo do brasileiro e, portanto, da economia?

Será preciso conferir o comportamento do mercado nos próximos meses para uma ideia mais completa. Mas algumas hipóteses sobre as causas já podem ser avançadas.

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A inflação tem feito estragos no poder aquisitivo do consumidor e esse pode ser fator relevante. Os reajustes acentuados nos preços administrados, especialmente nos da energia elétrica, enfatizam esse efeito. O aumento dos saques na caderneta de poupança, comentado há dias, sugere que o consumidor vem recorrendo a suas reservas para complementar seu orçamento. Mas há outras variáveis a levar em conta.

As famílias estão excessivamente endividadas, fato que tem aparecido com insistência nos relatórios dos bancos. Essa é uma das razões pelas quais o crédito vai avançando bem mais devagar e, com ele, o movimento do comércio.

O consumidor está bem mais conservador na administração de seu orçamento porque parece ter entendido que os tempos ficaram mais difíceis, seu emprego pode estar em risco e os ganhos de renda não se repetirão tão cedo.

E há a antecipação de compras. As reduções de IPI, para veículos e aparelhos domésticos, além de terem contribuído para o aumento do endividamento já citado, se transformaram em fator de redução das compras pelo consumidor. Quem acaba de comprar geladeira tão cedo não compra outra.

Do ponto de vista do comércio, essa é novidade bem-vinda porque descongestiona o movimento de fim de ano e o espaceja por épocas mais fracas. As promoções da Black Friday, que ocorrem ao final de novembro, vêm contribuindo para isso. Mas, à medida que são bem-sucedidas, essas ações tornam inevitável certo recuo das vendas no período seguinte.

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Para este ano, as notícias não são boas, especialmente para o segmento do comércio ampliado. Com a retirada dos incentivos tributários, os veículos ficaram mais caros e, além dos fatores já mencionados, a quebra de confiança do consumidor deve inibir as vendas. Enfim, este é apenas um indicador a mais que aponta para um ano mais difícil.

CONFIRA:

 Foto: Estadão

Aí está a evolução das vendas no varejo ampliado (que acrescenta veículos e materiais de construção).

EscaladaO dólar continuou ontem sua cavalgada no câmbio interno. Fechou a R$ 2,87, ou 1,38% acima da cotação da véspera, que já havia sido a mais alta em dez anos. Apenas em fevereiro, as cotações avançaram 6,89%.

Jogo contraA derrota do governo na Câmara dos Deputados sobre o Orçamento Impositivo mostra que o Congresso pode jogar contra o ajuste fiscal.

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Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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