Os aspectos econômicos (e técnicos) dessa disputa são de domínio público. É equivocado afirmar que são unicamente desdobramentos do estouro da bolha financeira a partir de 2007. Tem muito a ver com a crise, na medida em que o governo Bush cortou impostos, salvou bancos e empresas privadas (como as montadoras General Motors e Chrysler) e, já no governo Obama, quando as despesas com seguro desemprego e saúde pública aumentaram. Além disso, a recessão e/ou o baixo crescimento econômico reduziram a arrecadação ou a tornaram insuficiente para bancar as despesas. Mas não foi só a crise. Desde 2003, os Estados Unidos se meteram em duas guerras (com o Iraque e com o Afeganistão) e o rombo de US$ 4,4 trilhões criado por elas não pode ser atribuído aos efeitos do colapso financeiro.
O fato é que a diferença (déficit orçamentário) entre receitas e despesas do governo central dos Estados Unidos chegou a US$ 1,3 trilhão, em 12 meses terminados em junho, e a lei impede que a dívida do Tesouro americano salte acima dos US$ 14,3 trilhões - limite já atingido em maio. Se o Congresso americano não autorizar a expansão desse teto, a partir de 2 de agosto o governo Obama terá de deixar de pagar algumas de suas contas.
O impasse não está propriamente em divergência sobre a necessidade de elevar o endividamento, mas sobre o que tem de ser feito para reduzir em US$ 3 trilhões (em dez anos) o déficit orçamentário. Antes de tudo, reflete diferenças de visão de mundo entre o democratas (no governo) e o republicanos (na oposição).
O governo Obama vai brigando não só por cortes nas despesas correntes, admitindo, inclusive, atingir algumas despesas sociais, especialmente na política de saúde. Também faz questão de que sejam aumentados os impostos sobre a renda dos mais ricos e sobre o lucro das grandes empresas.
O Partido Republicano se mostra contrário a qualquer esticada de impostos e centra seus cortes em despesas correntes do governo, sobretudo nas sociais.
O cenário de fundo são as eleições presidenciais de 2012. A estratégia do Partido Republicano é solapar a candidatura do presidente Obama a um segundo período de governo.
As duas posições aparentam intransigência, pois estão jogando para a plateia, em disputa da cabeça do eleitor. Trata-se de convencê-lo de que o outro lado é o culpado não só pelo atual impasse, mas, inclusive, pelo que vier depois.
Até mesmo os políticos do Partido Democrata já vêm responsabilizando o atual presidente pelo que entendem por excessivas concessões já feitas. Se houver acordo, Obama pode ser apontado por ter aceitado cortar onde não deveria ser cortado. E se não houver acordo até dia 2 e o Tesouro tiver de começar a usar o tesourão, também o critério de escolha da parte do corpo que ficará fora do cobertor será objeto de disputas.
Isso mostra como é difícil para um governo arrumar a casa depois dos estragos provocados por uma festa grande e comprida demais.
CONFIRA
O gráfico traz o dólar comercial, mais perto de R$ 1,50 do que de R$ 1,60.
E agora? Mantido o padrão dos meses passados, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, repetirá ter poderoso arsenal para reverter essa trajetória. E virá um novo traque, sem mudar a tendência.
Desta vez, agradou. Acionistas da Petrobrás, por 10 meses desagradados com quebras de fluxo de caixa, gostaram dos cortes no Programa de Investimentos. Nesta segunda, após o anúncio, ações ordinárias subiram 4,3%, e preferenciais, 2,3%.