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Jornalista e comentarista de economia

Análise | Para a economia global, além de mais inflação, o tarifaço de Trump é uma bomba atômica

O Brasil pode ter a chance de ocupar novos espaços comerciais em economias que foram mais prejudicadas pela medida

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Foto do author Celso Ming
Atualização:

A primeira sensação é de alívio. Quem esperava uma paulada apocalíptica sobre o Brasil viu que os alvos mais importantes são China, União Europeia, Japão, Coreia do Sul, Taiwan e o Vietnã.

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Os produtos brasileiros ficaram com a “tarifa recíproca” média de 10%, a ser acrescentada às importações – a mais baixa que passará a ser cobrada.

Do ponto de vista da economia global, além de mais inflação, o tarifaço é uma bomba atômica sobre pelo menos 100 países. Além disso, não ficou claro se a tarifa média enfileirada na única tabela mostrada nesta quarta-feira será uniforme. Pode ser distribuída com altos e baixos, dependendo do produto. E, se o objetivo não é só revidar às atuais tarifas, mas também às barreiras não tarifárias (exigências de qualidade e de condições), como disse Trump, não é possível saber qual será o impacto imediato. Muitos países ou grupos já anunciaram represálias.

O presidente Donald Trump conta com um grande afluxo de novos investimentos para os Estados Unidos e com a redenção da indústria. Seu raciocínio é que os Estados Unidos foram roubados por décadas e chegou a hora da “libertação”. Mas não se sabe até que ponto isso irá acontecer.

As projeções são de obter receitas entre US$ 600 bilhões e US$ 1 trilhão por ano apenas com o tarifaço. Por aí se vê que um dos objetivos é arrecadar com um imposto cuja função não é arrecadar, mas regular o comércio exterior. Quando um governo usa um imposto regulatório para arrecadar, tende a produzir distorções, além das que serão geradas pela sanha protecionista. Quando, por exemplo, voltar a dar função regulatória às tarifas alfandegárias, a perda de arrecadação poderá fazer falta no orçamento. Ou, se mantiver a prioridade da arrecadação, o imposto deixará de funcionar como regulador do fluxo comercial.

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Donald Trump anuncia tarifas comerciais de importação dos Estados Unidos contra outros países.  Foto: BRENDAN SMIALOWSKI

Como reagirá o governo brasileiro, que agora conta com o respaldo do Congresso para um eventual revide? O diplomata Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos, já avisou que o País não tem cacife para peitar os Estados Unidos nessa guerra comercial. Isso significa que não pode sair atirando a esmo. Melhor é se esconder por trás do cupinzeiro até a poeira baixar e, só então, fazer o que for preciso – seja para tirar proveito desse jogo duro, seja para reduzir os estragos.

O Brasil pode sair favorecido. Pode ocupar espaços comerciais que agora serão estreitados de um lado e de outro e seguir exportando commodities, principalmente alimentos, petróleo e minérios.

Muito provavelmente, a guerra comercial facilitará novos acordos do Brasil e do Mercosul com os mais prejudicados pelos Estados Unidos, como a União Europeia e o Japão.

E, como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva hoje é mais partidário do livre-comércio do que foi antes, talvez seja a melhor hora para reduzir o forte protecionismo vigente, que tornou o Brasil um dos países mais fechados do mundo e que, em mais de 70 anos, ainda não conseguiu emancipar a indústria.

Análise por Celso Ming

Comentarista de Economia

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