O Fundo Monetário Internacional (FMI), principal patrulha da economia mundial, publicou ontem novo relatório. Nele rebaixa suas projeções de crescimento do PIB global em relação às divulgadas em abril.A impressão que deixou foi a de que, embora mais pessimista, o FMI foi otimista demais. Prevê avanço da economia mundial de 3,5% em 2012 e de 3,9% em 2013 - enquanto a percepção geral é de desempenho pior do que esse. (As pequenas divergências entre esses números e os do gráfico se devem a diferenças entre bases de comparação.)No caso do Brasil, o FMI prevê avanço de 2,5% em 2012, muito alto ante projeções recentes que consideram dados mais atualizados. As cerca de cem instituições auscultadas semanalmente pelo Banco Central na Pesquisa Focus, por exemplo, apontam, em média, 1,9% de crescimento - número que pode ser menor nas próximas semanas.O relatório do FMI parece consciente da relativa precariedade das suas projeções ao trabalhar com pressupostos de difícil realização. Um deles é o de que a área do euro consiga colocar em marcha políticas destinadas a resolver sua crise. Outro, o de que decisões de afrouxamento dos países emergentes produzam resultados.Os maiores riscos, alerta o FMI, são, primeiramente, de que a zona do euro não chegue à união bancária - o que pressuporia a instalação de mecanismos de supervisão até o final deste ano no âmbito do Banco Central Europeu (BCE) e a consequente capitalização dos bancos. E, em segundo lugar, que divergências políticas nos Estados Unidos impeçam acordo sobre expansão da dívida. Se a dívida americana não puder superar o teto de US$ 14,3 trilhões, o país terá um cobertor orçamentário mais curto e a economia afundará na recessão.O FMI sugere que o BCE quebre de uma vez por todas suas resistências e volte a imprimir moeda para irrigar sua economia e, assim, ajude a baixar os juros cobrados no financiamento e no refinanciamento das dívidas soberanas da área.O ortodoxo FMI pede que o BCE não tenha medo de parecer irresponsável e que mergulhe na heterodoxia por meio da recompra de dívidas com emissão de euros. Em outras palavras, a pressão do FMI é de que o BCE enverede pelo caminho trilhado pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que emitiu moeda para recomprar títulos do Tesouro dos Estados Unidos em duas operações de afrouxamento quantitativo. No entanto, a resistência a providências como essa não está localizada no BCE, mas no governo da Alemanha, que não aceita pagar um pedaço da dívida dos outros países do bloco.Assim, o FMI, que, no passado, foi tão rigoroso e intransigente quando os países mergulhados na crise da dívida eram latino-americanos ou asiáticos, agora se mostra bem mais flexível quando os superendividados são europeus.Mas essa nova flexibilidade do FMI não se atém às recomendações e às políticas exigidas. Transmite-se também às análises e, sobretudo, às projeções sobre o comportamento da economia mundial. Como os principais obstáculos à solução desses problemas não foram removidos, seguem as dúvidas de que, mesmo piores, esses resultados sejam alcançados.