SÃO PAULO - Mais doce que uma laranja, sem sementes e maior que uma tangerina. O “tangelo” é uma nova fruta, criada a partir da mistura de uma tangerina com um pomelo. A espécie trata-se de uma das apostas da Embrapa para diversificar a produção de frutas na região do Vale do São Francisco.
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No Semiárido, os estudos com citros são conduzidos desde 1996 e envolvem pesquisadores de duas unidades da Embrapa locais. Desde então, são avaliadas pelo menos 40 espécies de citros como laranjas, limas, limões, tangerinas e pomelos. A engenheira agrônoma Débora Bastos, uma das líderes da pesquisa, explica que o tangelo irrigado se adaptou bem à região. Segundo ela, o solo e o clima do local fizeram com que a fruta tivesse “excelente qualidade”.
“A produção foi espetacular, os frutos têm ótimo sabor, coloração e níveis de açúcar e acidez. Se forem comercializados, com certeza vão ser aceitos”, afirma. O próximo passo da pesquisa é estudar melhores técnicas de produtividade e manejo. “Muitos produtores procuraram a gente. Os dados são promissores”, diz.
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Versões próximas do tangelo existem em outros países, mas é pouco conhecido no Brasil. São muito comuns na China, Estados Unidos, Israel, Turquia e África do Sul.
Tangerina brasileira. Já em São Paulo, pesquisadores do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) lançaram uma tangerina 100% brasileira após 20 anos de pesquisas. A nova fruta tem menos sementes, cor intensa e é maior que outras variedades disponíveis.
Graças ao melhoramento genético, a variedade é resistente à mancha marrom de alternária, uma das principais doenças da cultura, que pode até inviabilizar a produção e provocar o fim de um pomar. “É fundamental que as novas variedades sejam resistente a doenças porque isso reduz o custo e aumenta a viabilidade da produção”, diz o produtor rural Emílio Fávero, presidente da Associação Brasileira de Citros de Mesa.
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Fávero comenta que trabalhos como o da Embrapa e do IAC são partes de um movimento global: o desenvolvimento de novas variedades cítricas com qualidades diferenciadas. “Ter novas opções de cultivo no Brasil é importante porque estamos vendo um aumento do consumo da tangerina no mundo todo, com novidades em outros países”, diz.
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Para Ibiapaba Neto, diretor executivo da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), que representa 90% do suco processado e exportado no País, pesquisas que produzam inovação para a citricultura brasileira são muito bem-vindas. “Como contribuição científica, é importantíssimo desenvolver esse tipo de pesquisa. Já em termos de mercado, é preciso ver se haverá demanda e aceitação no futuro”, pondera Netto.
Entenda. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que em 2015 havia quase 50 mil hectares de tangerina no País, que produziram 1 milhão de toneladas da fruta. Os principais produtores foram São Paulo (35%), Minas Gerais (19%), Paraná (17%) e Rio Grande do Sul (13%).
No entanto, o carro-chefe da citricultura nacional é a laranja. O Brasil é o maior produtor e exportador de suco dessa fruta - a cada dez copos de suco bebidos no mundo, seis são brasileiros. A estimativa da safra 2017/18 é de 364,5 milhões de caixas de 40,8kg, segundo o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus).
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A atual safra deve superar em 50% a anterior, que foi a menor em quase 30 anos devido às condições climáticas, explica Fernanda Geraldini, pesquisadora do mercado de citros do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), ligado à USP.
A estimativa do Fundecitrus é que haja 191 milhões de pés de laranja em produção no Brasil, espalhados por cerca de 402 mil hectares. A maior parte da produção de suco de laranja está em São Paulo, com cerca de 80% do total. Outros grandes produtores são Estados Unidos, China, México e Espanha.