Há duas questões que devem introduzir muita volatilidade nos mercados financeiros e aumentar a insegurança dos agentes econômicos, neste e no próximo ano. Uma delas tem nome próprio: Donald Trump, e a outra são as eleições brasileiras de 2026.
O comportamento de Trump preocupa em várias áreas, mas aqui destaco a sua política protecionista.
A teoria econômica é consensual quanto ao papel do protecionismo, que somente se justifica em situações específicas, como para viabilizar indústrias nascentes, e deve ser aplicado apenas temporariamente.
Há vasta literatura e trabalhos empíricos sólidos que evidenciam as vantagens do livre-comércio entre as nações. Basta citar os ganhos de produtividade, na medida que as economias aproveitem suas vantagens comparativas, o estímulo à competição e à inovação, a possibilidade de acesso a novos mercados e a maior disponibilidade de bens e serviços para os consumidores, a preços competitivos.

Mas Trump torna os efeitos de sua política protecionista mais problemáticos por suas declarações radicais, por ameaçar usar tarifas como instrumento de pressão ou de vingança, por suas idas e vindas e por menosprezar os custos para a própria economia norte-americana, que virão com o aumento de preços não só de bens de consumo, mas também de partes, peças, componentes e matérias-primas, muitas delas difíceis de substituir por produção doméstica. Tudo isso aumenta as incertezas dos agentes econômicos, o que inibe investimentos e reduz a produtividade da economia norte-americana. Além disso, pode haver pressão inflacionária, o que dificultaria a queda da taxa de juros básica pelo Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA).
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O Federal Reserve de St. Louis divulga diariamente a média móvel semanal de um índice de incerteza na política econômica, obtido por ampla pesquisa na imprensa e na mídia digital. No período de 1.º a 12 de fevereiro corrente, quando Trump engrossou suas ações e discursos protecionistas, esse índice ficou igual ao verificado no pior período da pandemia.
Para nós, além de aumento de tarifas sobre as exportações, os impactos negativos dessas instabilidades são óbvios. Basta lembrar a velha expressão: “Quando os Estados Unidos pegam um resfriado, o Brasil pega uma pneumonia”.
Quanto às eleições brasileiras de 2026, quem acompanha de perto o mercado financeiro observou a melhora de preço dos ativos quando a pesquisa Quaest mostrou queda na avaliação positiva do atual governo e empate técnico em um suposto segundo turno entre Lula da Silva e o governador Tarcísio de Freitas. Mas isso também envolve o risco de Lula tentar reverter sua queda de popularidade com medidas que prejudiquem o ajuste fiscal. Ou seja, com quase dois anos de antecedência, a eleição já está influindo no mercado.
Os mercados financeiros fecharam relativamente otimistas na última sexta-feira, mas apertem os cintos que vêm turbulências por aí.