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Ao menos 57 operários da construção já morreram por coronavírus em São Paulo

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Por Circe Bonatelli
2 min de leitura
Braço de negócios que busca lucrar com obras paradas ganhou destaque na Viver. Foto: Patrícia Cruz/AE

São Paulo, 19/05/2020 - A pandemia do coronavírus causou a morte de ao menos 57 operários da construção na região metropolitana da capital paulista, informou à Coluna do Broadcast o ex-deputado estadual e presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil (Sintracon), Antonio de Sousa Ramalho. Segundo ele, pode haver mais mortos, uma vez que o sindicato não vem sendo informado dos óbitos e as construtoras estão deixando de fazer os testes para identificar o covid-19 nos operários. Além disso, existem falhas na adoção de medidas preventivas, como uso de máscaras, distanciamento entre trabalhadores e revezamento de turnos para evitar aglomerações.

Infrações. A construtora Matec é um exemplo disso. A empresa recebeu autos de infração emitidos pela Auditoria Fiscal do Trabalho na semana passada por irregularidades. A Matec é gere a obra do Parque da Cidade, empreendimento multiúso na Chácara Santo Antônio, zona nobre da capital paulista. O empreendimento chegou a ter a obra paralisada.

Truco. A empresa deixou de fornecedor máscaras adequadas, toalhas nos banheiros e permitiu aglomeração nos refeitórios, inclusive com rodas de truco após o almoço com funcionários sem máscara, segundo a Auditoria Fiscal do Trabalho. Além disso, não fez o teste do coronavírus nos trabalhadores, mesmo após um deles ter morrido com suspeita da doença. A situação gerou o temor de que uma possível contaminação se espalhasse no local, no qual trabalham cerca de 1,2 mil pessoas.

Ajuste. A Matec respondeu à Coluna que passará a fazer os testes no canteiro a partir desta terça-feira, 19, e já ter adotado os ajustes apontados nos autos de infração, obtendo o sinal verde dos órgãos competentes para prosseguir com as obras. Além disso, acrescentou que já vinha adotando outras medidas contra o coronavírus, como a disponibilização de médico e enfermeiro no local, medição de temperatura, uso de álcool gel, entre outras práticas.

Próxima da fila. O sindicato dos trabalhadores fará a paralisação do canteiro de obra de um prédio residencial de alto padrão de uma das construtoras mais tradicionais do País nesta terça-feira, 19. O motivo do protesto também é a falta de notificação de caso suspeito de coronavírus e a falta de testes nos operários. O sindicato afirma que o objetivo é garantir a saúde dos trabalhadores nos locais inseguros e não provocar uma ampla paralisação de obras.

Números parciais. Já um levantamento da classe patronal não reconhece os operários mortos. Balanço realizado pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP) mapeou que existem apenas 63 casos suspeitos de contaminação por coronavírus e 25 confirmados nos canteiros da capital. Para os representantes das construtoras, isso "demonstra cabalmente a efetividade das medidas de prevenção adotadas para combater a covid-19 nos locais de obra", uma vez que o setor emprega 646 mil trabalhadores no Estado.

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Sem pretensão. Após ser confrontado com o número de mortes revelado pelo sindicato dos trabalhadores, o Sinduscon-SP recuou e disse que a sua pesquisa ainda é preliminar, abrangeu apenas 0,2% dos trabalhadores e ainda não tem "pretensão estatística", o que será alcançado com a continuidade do levantamento nas próximas semanas.