Em meio à maior crise da história do setor de aviação no mundo - ao mesmo tempo em que as práticas ESG (ambientais, sociais e de governança, na sigla em inglês) ganham importância entre investidores -, duas das maiores aéreas do País anunciaram recentemente metas de sustentabilidade. Não houve, porém, detalhamento de como atingi-las, objetivos de curto prazo ou escolhas de prioridades.
Na quarta-feira, a Latam anunciou um plano para atingir "carbono neutro" até 2050. Já a Gol afirmou, no mês passado, que pretende alcançar "balanço zero de carbono" no mesmo ano. Ambas também haviam firmado compromissos com a Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA) e com a Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO) para redução de emissões - o que envolveria desenvolvimento de combustíveis alternativos.
Para especialista, compromisso ESG precisa ser detalhado
De acordo com a diretora executiva da Escopo Energia, Lavinia Hollanda, compromissos ESG de longo prazo são importantes e precisam ser iniciados o mais rapidamente possível, mas não são suficientes. "Hoje, há um escrutínio maior na área parte dos investidores, que não aceitam só discurso de carbono zero em 2050", diz ela. "O ideal é que as empresas desdobrem esses planos em metas de curto prazo."
Em uma entrevista na qual foram permitidas apenas perguntas por escrito e sem direito a esclarecimentos adicionais, o presidente da Latam, Roberto Alvo, disse que companhia está em conversas com o governo brasileiro para o desenvolvimento de combustíveis alternativos. Não detalhou as possíveis fontes utilizadas, investimentos e os mecanismos para concretizar esse plano.
A Latam também buscará compensar 50% das emissões domésticas até 2030, estabelecendo um caminho para se tornar carbono neutro até 2050. "Nossa prioridade é encontrar múltiplas alternativas para reduzir emissões o mais rapidamente possível, nos engajando em projetos de reflorestamento, por exemplo", disse.
Latam espera que fabricantes desenvolvam novos aviões para reduzir emissões
Sobre a redução de emissões, a companhia afirmou que "vai trabalhar para reduzi-las por meio da incorporação de combustíveis sustentáveis e novas tecnologias de aviação que, estima-se, estarão disponíveis a partir de 2035." A Latam estima investir US$ 100 milhões na próxima década em iniciativas para a sustentabilidade, o que inclui um programa para zerar resíduos até 2027.
A Gol também não deu detalhes de seu plano. O comandante e assessor de projetos ambientais da Gol, Pedro Scorza, afirmou em nota ao Estadão/Broadcast que "todas as fontes são bem-vindas" para estudos de novos combustíveis, mas que "a escalabilidade da produção e os custos são, hoje, um desafio" para esse desenvolvimento.
"No Brasil, temos entendimento de que a soja, o sebo bovino, os açúcares e o álcool, além de resíduos urbanos, serão as principais fontes de matéria-prima (biomassa) a despontar, atreladas à já existente cultura do biodiesel e do etanol", afirmou.
Os desafios ambientais são especialmente críticos ao setor de aviação. Segundo Lavinia, um dos maiores desafios diz respeito à dificuldade de se atribuir emissões para cada país no qual as companhias operam. Outro é de cunho tecnológico: além de garantir segurança aos passageiros, o novo combustível precisa de escala tanto na origem quanto no destino.
"É preciso garantir que o processo todo seja sustentável, não somente no momento do uso", diz ela. "Os anúncios das companhias aéreas geram um movimento positivo no mercado, mas as empresas precisam mostrar como vão atingir essas metas."
Esta reportagem foi publicada no Broadcast+ no dia 05/05/2021, às 18:40:57.
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