
No último ano, o Mercado Livre trouxe 360 grandes marcas para sua plataforma como lojas oficiais. Segundo o líder da companhia no Brasil, Fernando Yunes, o número é um recorde e faz parte da estratégia do grupo. A intenção é ter na plataforma marcas às quais o consumidor é fiel. Assim, evita-se que ele vá no aplicativo ao lado para realizar a compra.
"Há um tempo atrás não tínhamos Apple, Brastemp, Electrolux, Motorola e Samsung, que são marcas que dominam o mercado de eletrônicos. Trouxemos essas marcas para a plataforma. Em alimentos, temos o GPA, o Mambo, a Nestlé. As marcas às quais o cliente tem fidelidade têm de estar na plataforma. Se não, eles vão buscá-las em outro lugar", diz Yunes.
É importante lembrar que parte delas já eram vendidas por marketplaces ou e-commerces concorrentes, como o Magazine Luiza e a Via, tradicionais na venda de linha branca. A prática não foi adotada antes no Mercado Livre por estratégia das próprias marcas.
Sem citar nomes específicos, o futuro presidente de e-commerce do Mercado Livre, Ariel Szarfsztejn, afirma que por algum tempo a entrada de grandes empresas não acontecia na plataforma por exigência de condições especiais. "Durante muitos anos, grandes marcas não queriam ter suas lojas oficiais na plataforma também porque queriam condições comerciais distintas. Agora, as marcas se dão conta de que se não participarem do comércio eletrônico e das plataformas (de marketplace), ao final, vão perder exposição", diz ele, que assumirá o posto em 31 de março.
Yunes, da operação brasileira, diz que não foram acordadas tarifas diferentes para esses lojistas, justamente pelo princípio do Mercado Livre de democratizar o comércio e para oferecer condições mais igualitárias aos lojistas virtuais que já estavam na plataforma. No entanto, em fóruns de vendedores consultados pela reportagem, chovem reclamações de como os pequenos lojistas não conseguem concorrer em condições de igualdade em termos de preço e escala com os maiores.
Para Szarfsztejn, porém, essa é uma questão comum entre o mundo físico e o digital. "Se você compra no armazém próximo à sua casa, os preços não são os mesmos (que os de grandes comércios). Isso não é algo gerado pela plataforma online. O que fazemos é dar a chance para que todos fiquem expostos na mesma vitrine e que o consumidor não tenha que ver diferentes vitrines", afirma.
Ele elenca ainda serviços do Meli que os empreendedores podem usar para melhorar seu tempo de entrega, como o Mercado Envios, ou para promover propaganda de seus produtos. Os serviços são pagos e a companhia tem reduzido, por exemplo, o subsídio dado para o uso de seu armazenagem, que acelera as entregas. Ainda assim, os executivos afirmam que, para atingir o mesmo nível de rapidez sozinhos, os lojistas gastariam muito mais.
Barganha
Yunes afirma ainda que o Mercado Livre começou a ganhar mais força para trazer esses grandes lojistas no último ano por uma questão de inércia. "Não teve mudança de preços. O que teve é que, à medida que algumas marcas começam a vir, a concorrência acaba vindo também. E quando vêm 360 lojas, no ano passado, isso gera inércia positiva para que essas grandes marcas continuem a vir. Elas se deram conta que elas tem de estar onde está o cliente", diz.
O executivo chama a atenção para um fato já narrado pelo próprio Grupo Pão de Açúcar, quando este decidiu vender por meio do Mercado Livre e de outras plataformas de entrega. Quem escolhe vender apenas por seu e-commerce próprio está fadado a ter um público limitado. "Se tem 65 milhões de pessoas (usuários) no Mercado Livre, não faz sentido não estar ali também", diz Yunes. No caso do GPA, a decisão foi entrar em múltiplas plataformas, para estar em todos os lugares onde possa alcançar os clientes, mas há quem seja mais tímido, ou esteja, ainda, testando as águas.
Nike e Adidas têm no Mercado Livre seu único marketplace no Brasil. A Arezzo, por sua vez, comprou uma marca e resolveu vendê-la exclusivamente pelo Mercado Livre. A estratégia da calçadista foi alcançar pelo marketplace um público diferente do que mira com suas bandeiras principais. A MyShoes, voltada para as classes B- e C+ vende apenas pelo Meli. Yunes diz, porém, que não há contratos de exclusividade na plataforma. A decisão de buscar outros parceiros cabe às marcas.
Esta reportagem foi publicada no Broadcast no dia 18/02/22, às 16h30.
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