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Bastidores do mundo dos negócios

Em recuperação, Eataly Brasil perde direito da marca e luta contra despejo

Franquia enfrenta crise financeira há alguns anos e já teve diferentes donos

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Foto do author Gabriel Baldocchi
Foto do author Carolina Maingué Pires
Atualização:
Balcão sem a marca Eataly no interior da loja em São Paulo Foto: Gabriel Baldocchi/Estadão

A operação do mercado italiano de alimentos Eataly no Brasil sofreu no início deste ano o mais duro golpe na tentativa de se recuperar da crise financeira que enfrenta nos últimos anos. A franquia brasileira, pertencente a um grupo de investidores locais, perdeu o direito de uso da marca estrangeira que dá nome ao ponto no cobiçado endereço da capital paulista, a Avenida Juscelino Kubitscheck, desde a chegada da marca ao País, em 2015. Em paralelo, luta para barrar uma ação de despejo movida pelo dono do imóvel, a Caoa Patrimonial.

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Para se blindar de pedidos de falência feitos por alguns credores, a empresa buscou a recuperação judicial no final do ano passado. O pedido veio dias depois de uma decisão no âmbito de outra ação de despejo, que é anterior à da reestruturação. Nela, a Justiça reestabeleceu uma ordem então suspensa para permitir a retirada do inquilino do local.

Entre algumas idas e vindas, a Justiça determinou que o despejo deveria ocorrer no dia 21 de janeiro de 2025. No dia 10, o juiz autorizou inclusive “reforço policial e ordem de arrombamento”. O Eataly conseguiu evitar a saída forçada, mas o risco segue no radar.

O juiz da recuperação judicial determinou que as dívidas antigas referentes ao aluguel estão sujeitas à recuperação, mas a suspensão do despejo fica condicionada a que os demais aluguéis sejam pagos em dia. A Caoa argumenta que acertos subsequentes foram feitos de forma parcial e alega também que a perda da marca descaracteriza a essencialidade do imóvel para a recuperação.

Sem nome

A retirada dos direitos de uso do nome Eataly foi decidida numa arbitragem entre o grupo italiano e a operação brasileira, que tenta reverter a medida. Na loja, todas as referências ao nome tiveram que ser retiradas e, quem visita o local, pode notar o letreiro ausente na fachada e tarjas cobrindo a marca em menções no interior, como constatou a Coluna esta semana.

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De 2015 a 2021, a operação do Eataly no Brasil estava nas mãos do St. Marché, em sociedade com os italianos. Em 2022, foi comprada pelo grupo South Rock, que também era dono do Subway no País. O Eataly chegou a compor a recuperação judicial do South Rock, mas deixou o processo depois de passar por uma nova troca de controle, com a venda para o grupo Wings, formado por investidores locais, em 2023.

No pedido de recuperação judicial, o grupo brasileiro diz que a crise financeira se deu como reflexo dos impactos da pandemia, além dos altos custos do aluguel e de importação dos produtos vendidos no mercado. A nova gestão diz ter injetado R$ 20 milhões para tentar equalizar os problemas da empresa. A dívida total da recuperação judicial soma R$ 49 milhões.

Perfil

Conhecido por ser um dos mais tradicionais mercados de produtos italianos, o Eataly foi concebido em Turim, na Itália, em 2007, com o conceito de inovar na distribuição de itens agrícolas típicos do país. Hoje, está presente em ao menos 10 países, em cidade como Paris, Chicago, Londres e Tóquio. O mercado virou um símbolo global por reunir itens como vinhos, massas e chocolates, além de restaurantes, soverterias e cafés.

A defesa da Caoa não retornou até a publicação desta matéria. A administradora judicial nomeada para o processo de reestruturação da franquia brasileira é a Ativos Administração Judicial e Consultoria Empresarial.

Em nota, a operação brasileira do mercado italiano Eataly afirmou que a decisão sobre a perda da marca no País foi dada num processo arbitral sigiloso e que não é definitiva. Por meio de sua assessoria de imprensa, a franquia brasileira disse que o mérito da decisão que determinou a retirada da marca ainda será analisado pelas instâncias competentes. “A empresa segue rigorosamente a legislação vigente”, afirmou o texto.

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De acordo com a empresa, o pedido de recuperação judicial se deu com o objetivo “exclusivo de viabilizar a mediação com dois credores não financeiros, garantido uma negociação estruturada e eficiente”, afirma o grupo. Segundo o Eataly Brasil, o processo não impacta as operações da empresa, obrigações contratuais, fluxos de pagamento ou compromissos com fornecedores e parceiros. “O Eataly reafirma seu compromisso com colaboradores, fornecedores e clientes, assegurando a continuidade das atividades com responsabilidade e foco no crescimento sustentável do negócio.”

Esta notícia foi publicada no Broadcast+ no dia 07/02/2025, às 18:07.

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