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Gestoras celebram possível ‘Fiagro multimercado’, com nova regra da CVM no horizonte

Autarquia abriu consulta pública sobre o tema em 31 de outubro

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Por Bruna Emy Camargo
4 min de leitura
Octaciano Neto, da Suno, diz que novas regras podem possibilitar 'a democratização do acesso do produtor rural ao mercado de capitais' Foto: Tiago Queiroz/Estadão Conteúdo

Tudo indica que os fundos de investimento nas cadeias produtivas do agronegócio (Fiagros) estão perto de ganhar uma nova norma para chamar de sua. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu no dia 31 de outubro uma consulta pública para debater a proposta de uma norma específica para o produto, e entre os pontos já levantados para debate, tem animado gestoras ouvidas pelo Broadcast Investimentos a possibilidade do chamado “Fiagro multimercado”.

“A possibilidade de ter múltiplos ativos elegíveis para que os fundos possam investir é o principal ponto para nós”, afirma Octaciano Neto, diretor de Agro do Grupo Suno, destacando ser um “grande avanço” do ponto de vista regulatório. Neto conta que antes mesmo da CVM abrir a consulta pública, a equipe da Suno esteve com Bruno Gomes, superintendente de Securitização e Agronegócio da autarquia, para apresentar contribuições, e o Fiagro multimercado havia sido mencionado.

Entre o leque de ativos que se abre, o diretor da Suno destaca a chance dos Fiagros investirem diretamente em cédulas do produto rural (CPR), hoje reservadas apenas ao segmento de Fiagro-FIDC (Fiagro que investe em direitos creditórios). “Possibilita a democratização do acesso do produtor rural ao mercado de capitais, pois emitir um CRA (certificado de recebíveis do agronegócio) é importante, mas caro”, diz Neto.

Diversificação pode otimizar relação entre risco e retorno

“A diversificação de ativos pode otimizar a relação entre risco e retorno”, afirma Bruno Santana, presidente executivo (CEO) e fundador da Kijani Investimentos. “A própria natureza do agronegócio brasileiro é multifacetada, então um produto segmentado possibilita oferecer soluções diversificadas”, acrescenta.

Além disso, o CEO da Kijani acredita que uma norma revisada “tem potencial para dinamizar a indústria dos Fiagros, especialmente se introduzir maior facilidade de investimento e variedade de instrumentos, estruturas de garantia e maior transparência”.

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O diretor da Suno ainda diz que um dos principais benefícios que a nova norma pode trazer é uma “simplificação da narrativa”, uma vez que não seriam mais utilizadas as diferenciações de Fiagro-FIDC, Fiagro-FII (Fiagro que investe em imóveis) ou Fiagro-FIP (Fiagro que investe em participações). “É um fundo que investe em agro, ponto final. Depois, em um ‘segundo degrau’, o investidor escolherá o fundo de acordo com as estratégias, assim como faz com FIIs (fundos de investimentos imobiliários). Mas é uma simplificação e vai atrair investidores”, afirma.

Com R$ 15 bilhões, setor já tem peso para ter regulação própria

Gustavo Gomes, líder Comercial de Agronegócio da XP Asset, observa que não se trata de “tirar o mérito da ‘casca’ regulatória dos FIIs”, utilizada para a Resolução CVM 39, publicada em 2021 em caráter experimental e que possibilitou o desenvolvimento inicial dos Fiagros. “Mas hoje, essa indústria já tem um patrimônio líquido de R$ 15 bilhões, então uma regulação específica para os fundos tende a agregar”, destaca.

As sugestões para a consulta pública da CVM podem ser enviadas até 31 de janeiro de 2024 e não há previsão para a publicação da nova norma. O presidente da autarquia, João Pedro Nascimento, tem afirmado a interlocutores e em participações em eventos que se trata de uma pauta prioritária.

Embora a consulta pública da CVM faça menção ao investimento em crédito de carbono por meio dos Fiagros multimercado, as gestoras ouvidas pelo Broadcast Investimentos ainda não se animam com a ideia. “Acho que crédito de carbono é hype no Brasil hoje. Não estamos seguros para tratar do tema, é preciso ver avanços regulatórios”, diz Neto, da Suno. Gomes, da XP Asset, e Santana, da Kijani, também aguardam mais desenvolvimento e regulamentação desse mercado.

Agtechs entram no radar dos investidores

A consulta pública para a nova regra dos Fiagros traz ainda a possibilidade de investimento direto em empresas ou fundos de venture capital, destaca Neto, da Suno. Ele estima que a indústria de fundos de VC especializados em agro no Brasil tenha cerca de R$ 1 bilhão de patrimônio líquido, e que o aporte de Fiagros pode impulsionar os recursos. “É um dinheiro que está ‘contratando’ o futuro, para inovação, novas tecnologias”, afirma o diretor.

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Levantamento recente da plataforma Distrito mostra que, neste ano, as agtechs brasileiras - startups ligadas ao agronegócio - receberam US$ 54,3 milhões de investimentos, em 22 rodadas de captação. Em 2022, o valor chegou a US$ 273,3 milhões. As categorias que acumulam maior volume de investimento são agtechs de produção, gestão e gerenciamento, finanças e cadeia de suprimentos.


Este texto foi publicado no Broadcast no dia 10/11/23, às 13h57

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