Com a falta de dinheiro, o escambo foi a solução

Com o capital de giro confiscado, o empresário Lawrence Pih precisou pagar parte dos salários com farinha de trigo

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Por Redação
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Empresários, do pequeno ao grande, também sofreram com o Plano Collor, como Lawrence Pih, dono do Moinho Pacífico. "Perdi uma fortuna", conta.Antes da posse de Fernando Collor, os empresários temiam que houvesse alguma mudança profunda na economia. Pih colocou parte das aplicações em ouro. Veio o confisco, a bitributação de investimentos como o próprio ouro e a falta de liquidez no mercado. Ele não tinha dinheiro nem para quitar a folha de pagamento. "Propus aos funcionários pagar parte dos salários com sacos de farinha. O Collor foi um acidente que aconteceu no País", sentencia.Pih foi um dos críticos ao pacote. Como represália, lembra, recebeu a visita da Receita Federal. Ele conseguiu, com o passar dos meses, acertar as finanças da empresa. Mas estima que tenha perdido 20% do patrimônio. "Como o País pode eleger um governante como esse senhor, que rompe virtualmente com o estado de direito?", dispara.O economista Sérgio Rodrigues relata que enterrou o sonho de ser um empreendedor depois de se desfazer de duas academias de ginástica e perder o emprego de diretor em uma empresa. Antes do pacote de Collor, Rodrigues, recém-casado, tinha comprado um apartamento e montado a segunda academia. "Sem dinheiro, as pessoas cortaram supérfluos, como ginástica. Me senti impotente, porque a situação não estava nas minhas mãos", relata.A saúde de Rodrigues ficou muito abalada. Ele precisou de antidepressivos e enfrentou muitas horas de terapia até superar a tunga.Conta o economista: "Literalmente eu batia a cabeça na parede para ver se as ideias voltavam ao lugar e eu entendia o que estava acontecendo. Lembro de casos de suicídio, de gente que entrou com carro e tudo nas agências bancárias para tentar tirar o dinheiro. Foi terrível." Hoje Rodrigues tem um bom emprego em uma multinacional. Apesar de estar recuperado, diz: "Ser empreendedor, nunca mais. Perdi a segurança. Melhor ser funcionário, porque o dano é menor".Ações. Apesar de algumas interpretações jurídicas de que o prazo para recorrer às perdas do Plano Collor já expirou ou termina agora, no dia 15, Maria Elisa Novais, diretora do Idec, diz que ainda é possível entrar com ação. O site do instituto traz as orientações (www.idec.org.br). Mas os casos de sucesso, admite, são poucos. "Aquilo foi uma catástrofe para as pessoas, que afetou também a vida emocional", diz.Na sexta-feira, a Defensoria Pública da União e a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro pediram na Justiça Federal, por meio de ação civil pública, a interrupção do prazo de prescrição dos direitos dos poupadores do Plano Collor.

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