O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15), considerado uma prévia da inflação, avançou 0,73% em março, taxa um pouco acima da verificada em fevereiro (0,70%), mas dentro das estimativas dos analistas. É o maior resultado para um mês de março desde 2003, quando subiu 1,14%. Com o resultado anunciado nesta sexta-feira, 21, o índice acumula altas de 2,11% no ano e de 5,90% em 12 meses.
A pressão sobre os preços veio dos alimentos, cuja alta acelerou de 0,52% para 1,1%. Os transportes também pesaram sobre o resultado e passaram de queda de 0,09% para alta 1,22%. Juntos, os dois itens responderam por quase 70% da inflação no período.
A pesquisa mostrou que vários alimentos chegaram ao consumidor com preços mais salgados do que no mês anterior. Segundo o IBGE, os destaques foram o tomate (28,53%), a batata-inglesa (14,59%), as hortaliças (12,72%), os ovos (3,07%) e as frutas (2,05%).
Para o economista-chefe da Concórdia Corretora, Flávio Combat, o impacto da estiagem sobre os preços deste grupo deve durar, pelo menos, até abril, segundo o especialista. "Os alimentos estão refletindo a aceleração percebida no atacado, já que a safra de alguns produtos está sendo prejudicada pela estiagem", afirmou. "Estamos assistindo ao começo de uma inflação de alimentos mais alta. Ainda não é o topo", acrescentou.
Preocupado com a alta dos alimentos, o governo prepara medidas para aliviar a inflação. Em reunião prevista para terça-feira, a câmara técnica do Conselho Interministerial de Estoques Públicos de Alimentos (Ciep) determinará a venda de estoques de milho para abastecer algumas regiões, sobretudo o Nordeste, e discutirá ações em alimentos básicos, como o feijão, afetado pelo clima nas principais áreas produtoras do País. Combat ressalta que a inflação em 12 meses saltou para 5,90% e deixa menos espaço para acomodar outras altas, como a de tarifas de energia elétrica. Além disso, caso a estiagem persista, ele não descarta que o teto da meta (que é de 6,5%) seja rompido em meados do ano.
Passagem. Isoladamente, as passagens aéreas foram o item de maior impacto na prévia da inflação, respondendo por 0,11 ponto porcentual do índice. Dentro do grupo transportes, também houve alta das tarifas de ônibus urbano (0,38% para 1,51%) e etanol (0,28% para 2,89%). "Daqui para frente, a passagem aérea será um item intermitente de pressão inflacionária. Pode ser que as companhias aproveitem o crescimento abrupto da demanda para fazer repasses (de custo)", disse Combat. O economista prevê que as passagens deverão pressionar a inflação até o meio do ano.
Selic. Para Combat, reduzir o ritmo de ajuste da Selic, a taxa básica de juros da economia, de 0,50 ponto porcentual para 0,25 ponto porcentual na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) foi um erro, mas ele considera pouco provável que o BC volte atrás e acelere o passo no aumento de juros. Atualmente, a Selic está em 10,75% ao ano. "Acredito que ele vá estender o ciclo", disse Combat, que projeta Selic a 11,5% no fim de 2014, embora ele acredite que a autoridade monetária deveria chegar aos 12% "o quanto antes".
Na avaliação de Alessandra Ribeiro, economista e sócia da Tendências Consultoria, os efeitos cumulativos e defasados do aumento de juros iniciado em abril do ano passado pelo BC, além do câmbio bem comportado e certa acomodação da inflação nos próximos meses, dão a certeza a ela de que o BC não elevará os juros em maio. Ela estima que o IPCA em abril deve subir 0,52% e avançar 0,42% em maio. A Tendências projeta um incremento de 6% da inflação em 2014, com elevação de 1,9% do PIB. Já Combat, da Concórdia, projeta inflação de 6,1% (estimativa revisada na última quarta-feira, de 5,9%).
Regiões. Entre as 11 regiões pesquisadas, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo tiveram alta da inflação superior à média em março. Na capital federal, a prévia da inflação oficial avançou 1,26%, o maior porcentual entre as regiões, ante 0,06% em fevereiro. O resultado foi diretamente influenciado pela alta de 51,65% nas passagens aéreas. Como este item tem peso de 1,62% para a região, o impacto foi de 0,84 ponto porcentual.
No Rio, o IPCA-15 de março ficou em 1,24%, contra 0,95% em fevereiro. A principal fonte de pressão veio do resultado do ônibus urbano (+7,14%), que refletiu o reajuste de 9% nas tarifas a partir do dia 08 do mês passado. O item empregado doméstico, com elevação 3,45%, também ajudou a impulsionar o índice de março na região. Em São Paulo, a alta do IPCA-15 também ficou acima do índice geral, em 0,77%. Mesmo assim, a taxa é inferior aos 0,87% observados em fevereiro.
(Com Idiana Tomazelli, Hugo Passarelli e Ricardo Leopoldo)
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