Consumidor vence guerra de preços

A concentração de mercado nas mãos das cinco maiores redes de supermercados muda a estratégia de negociação de preços com os fornecedores. Mas o consumidor é quem dá a palavra final e a disputa pelos clientes impede o aumento de preços.

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Por Agencia Estado
Atualização:

Quando a inflação era alta, o poder de fogo estava nas mãos dos fornecedores dos supermercados, que incorporavam os reajustes de custos nos preços. O comércio remarcava e o consumidor pagava a conta mais alta. Hoje, com a estabilização da moeda e a concentração do varejo, o poder passa para as grandes redes de supermercados, que ditam as condições de negociação. As indústrias reclamam das exigências feitas pelos supermercados. Mas quem ficou mais exigente, de fato, foi o consumidor. Ele busca preços menores e qualidade superior nos produtos. Isso fez com que a concorrência entre os supermercados aumentasse, impedindo os aumentos descabidos de preços. Consumidor é quem ganha com a disputa Prova disso é que a inflação continua sob controle, apesar de aumentos ocasionais dos índices. Os preços médios dos alimentos industrializados subiram neste mês depois de quedas sucessivas, desde fevereiro, no Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe). A alta foi impulsionada pela entressafra de matéria-prima e pela recuperação da massa salarial, que puxa para cima a demanda por produtos alimentícios. Para o coordenador da Fipe, o economista Heron do Carmo, a disputa entre as grandes redes de supermercados favorece o consumidor. Ele não acredita que essa concentração de mercado chegue ao limite a ponto de as redes maiores passarem a ditar os preços. O poder do consumidor Para o presidente da Associação Brasileira de Supermercados ( Abras), José Humberto Pires de Araújo, o poder nas negociações entre indústria e comércio deslocou-se para o consumidor. Hoje ele é o grande mandatário da questão. Para o superintendente do Carrefour, Jean Duboc, só o monopólio representa um risco e os grandes grupos vão garantir a concorrência para o consumidor, afirma. O fato de a maior concentração não ter se transformado em aumento de preços para o consumidor resulta da força do mercado, segundo explica o coordenador do Programa de Administração do Varejo (Provar) da Universidade de São Paulo, Cláudio Felisoni. Segundo ele, mesmo com a concentração maior, a concorrência entre os grandes supermercados é intensa e o mercado acaba estabelecendo o preço. Na avaliação de Felisoni, a estrutura de mercado dificulta o aumento de preços para o consumidor. As grandes redes só poderão ditar preços se a concentração de mercado for tão alta que acabe com a concorrência. Marca própria a reduzir preço O avanço das marcas próprias dos supermercados coincide com o aumento da concentração no setor. Em 1999, representou 5% das vendas das dez maiores redes, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras). A perspectiva é que neste ano atinja 8%. A marca própria tornou-se ferramenta tão usual dos supermercados que 85% das 20 maiores supermercadistas no Brasil têm esse tipo de produto. Segundo especialistas, quanto maior a concentração de mercado, maior a presença a marca própria. Fabricantes dizem que há casos em que o varejo condiciona a compra de um produto à fabricação da sua marca própria. Além disso, ao encomendar a marca própria, ele passa a conhecer a estrutura de custos do produto para o fabricante. Com isso, tem mais argumentos para negociar preços.

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