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Ata do Copom faz com que analistas projetem fim da alta dos juros

Especialistas apontam que, após dois anos de tantas surpresas, Banco Central não “fechou a porta” para eventual elevação

Por Guilherme Bianchini e Marianna Gualter

A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada pelo Banco Central nesta terça-feira, 9, levou analistas a projetarem o fim da alta dos juros. Na semana passada, o Copom aumentou pela 12ª vez seguida o juro básico desde março de 2021, o ciclo de aperto monetário mais longo da história do comitê, para tentar debelar uma inflação alta, disseminada e persistente.

“Se você vai avaliar a possibilidade da necessidade de um ajuste adicional, isso significa que nesse momento você acha que não precisa. O Banco Central deu um sinal claro de que ele parou agora”, afirma Luís Otávio de Souza Leal, economista-chefe do Banco Alfa. “Obviamente ele não fechou a porta porque nesses dois últimos anos o que não tem faltado são surpresas.”

Analistas a projetam o fim da alta dos juros após ata do Comitê de Política Monetária, divulgada pelo Banco Central nesta terça-feira, 9,  Foto: Netflix

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Diante dessa percepção, Leal manteve sua projeção de manutenção do patamar atual da Selic, a 13,75%, até agosto do próximo ano, quando os cortes devem ser iniciados - levando a taxa básica de juros a 11,75% no fim de 2023. “Com a ata bem clara, ficaram poucas dúvidas sobre qual é o plano de voo até setembro.”

Para o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita, a interpretação de que o BC deve manter a taxa de juros em 13,75% no próximo encontro, em setembro, é reforçada pela menção de que os efeitos defasados da política monetária devem se intensificar no segundo semestre e pela ponderação de que a interpretação desse impacto pode ser confundida pelos recentes estímulos fiscais de curto prazo.

“Por outro lado, o comitê também enfatizou que permanecerá vigilante e avaliará se apenas as perspectivas de juros elevados por um período prolongado garantirá a convergência da inflação para a meta”, afirma o economista. “Isso deixa a porta aberta para uma alta de juros residual se os dados surpreenderem nessa direção.”

Ponto crucial

“O Banco Central tentou de todas as formas trazer essa sinalização de que vai encerrar o ciclo e esperar para ver, nem que seja necessário manter [a taxa] por mais tempo até a inflação convergir para a meta”, analisa Tatiana Nogueira, economista da XP Investimentos.

Nogueira cita o parágrafo 20, no qual o colegiado afirma que “avaliará se somente a perspectiva de manutenção da taxa básica de juros por um período suficientemente longo assegurará tal convergência [da inflação]”. “Esse ponto é crucial porque, no comunicado, não tinha ficado muito claro se haveria necessidade de um ajuste adicional. Agora o BC deixa clara a intenção de encerrar o ciclo”, diz.

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Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, a ata deixou em aberto qual será o próximo passo do BC - ele mantém a projeção de nova alta em setembro, de 0,25 ponto porcentual.

“O BC deixou em aberto se fará isso ou não”, afirma. “Ele poderia ter sido um pouco mais claro sobre esse movimento, especialmente em um momento tão turbulento como agora. Coloca mais um grau de incerteza, um ruído talvez desnecessário.”

O economista analisa que há uma insegurança especialmente para 2023, mas cada vez mais em 2024. “Coloca a preocupação de que mesmo depois de passar o risco da volta de impostos, da pandemia e da guerra na Ucrânia, o BC ainda precise trabalhar para conter as expectativas de 2024, que estão começando a subir, ainda que muito próximas da meta”, afirma. “Por ser um novo governo e não sabemos exatamente como será a recessão lá fora, tem uma incerteza muito grande. Pode ser um ano de retomada no exterior e de começo de uma retomada mais forte da economia brasileira, o que levaria a uma inflação mais pressionada.”

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