Setenta estradas com obras paradas na Espanha. 1,7 mil prédios públicos à venda na França e prefeituras de cidades pequenas sendo abolidas na Itália. "A Era da Austeridade" ganhou terreno nos últimos meses na Europa diante de um rombo sem precedentes nas contas dos países.O problema é que, agora, a constatação da própria Comissão Europeia é que a economia da região está estagnada diante dos cortes nos gastos públicos, da elevação de impostos e da redução drástica dos investimentos do Estado. Se 2010 seria o ano da recuperação, os europeus estão descobrindo que a retomada não ocorreu e que, hoje, a economia do continente está mais afetada que a dos Estados Unidos, o epicentro da crise há dois anos.A pior crise econômica na Europa desde a Segunda Guerra Mundial que destruiu parte importante do continente exigiu dos governos programas de resgate aos setores mais atingidos, pacotes para bancos e subsídios para diversas áreas. Agora, as contas não fecham e os governos estão sendo obrigados a promover planos de austeridade que estão transformando a forma de atuar da administração pública e de milhões de trabalhadores. Levantamento da Comissão Europeia obtido pelo Estado já demonstra que medidas de austeridade estão impedindo que a recuperação da economia possa ocorrer de forma acelerada. No total, os 27 países da UE apresentaram programas de cortes de gastos que chegam a 340 bilhões apenas para os próximos três anos. O maior de todos é do Reino Unido, com redução de gastos de 83 bilhões. Na Alemanha, os cortes serão de 80 bilhões, seguido pela França com 45 bilhões. Mas é nos países menores do bloco que os cortes estão tendo um impacto mais profundo. Na Grécia, a redução de gastos públicos em 30 bilhões e a elevação de impostos já fez com que 2 mil empresas simplesmente deixassem o país ou fechassem as portas em 2010. Na Irlanda, com corte esperado de 15 bilhões no orçamento de 2011, o número de falências já aumentou 25% entre 2009 e 2010. Fusão de prefeituras. Na Itália, o governo promete reduzir gastos em 25 bilhões e, para isso, está ordenando que os municípios com menos de 220 mil habitantes já se preparem para ver o fim de suas prefeituras. A ideia é fundir as prefeituras com as de outras cidades para evitar gastos. O impacto sobre a recuperação tem sido evidente. Um dos pilares de todos esses pacotes tem sido o corte de salários e demissões. Para a Comissão Europeia, não ha dúvidas que isso está fazendo com que milhões de pessoas simplesmente deixem de comprar e gastar. O resultado é uma recuperação lenta do comércio em muitas regiões. Obras públicas. Mas o impacto maior tem sido o corte de verbas dos países para obras públicas, investimentos e contratos de licitação. Setores privados que empregam altos números de trabalhadores, como o da construção, tem sofrido com a falta de pedidos. Só na Espanha, o governo suspendeu 6 bilhões em obras diante da crise. Se nos primeiros meses de 2010 a esperança era que a recuperação poderia começar a se acelerar durante o ano, os cortes de gastos dos países freou essa tendência, segundo a UE. Em 2009, a UE estava crescendo a uma taxa de 0,2% no último trimestre do ano. Em comparação com o mesmo período de 2008, a contração ainda ocorria, com uma perda do PIB de 2,2%. No primeiro trimestre de 2010, vieram os primeiros sinais de retomada. A economia cresceu 0,4% e, entre abril e junho, a taxa chegou a 1%. Mas o que a UE descobriu agora é que essa recuperação não está sendo sustentável e que a ameaça de uma estagnação prolongada ganha terreno. No terceiro trimestre, a alta do PIB dos 27 países foi de apenas 0,4%. Em vários países, a constatação é de que as taxas de expansão do PIB do primeiro semestre não estão se repetindo no segundo (veja quadro ao lado).Perspectivas. Para 2011, os planos de austeridade continuarão a ter impacto. No Reino Unido, a expansão da economia que era esperada para chegar a 2,5% no próximo ano será, na melhor das hipóteses, de 1,7%. Na França, a projeção de crescimento foi rebaixada de 2,5% para apenas 2%. Para a zona do euro, a projeção do FMI é de uma expansão do PIB de 1,5% em 2011, inferior aos 1,7% em 2010. No Leste Europeu, a previsão também é de que a recuperação perca força. Neste ano, a estimativa é de uma expansão de 3,7% na Bulgária, Croácia, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Romênia e Polônia. Para 2011, essa taxa cairá para 3,1%. Na prática, a crise de 2008, levará quase cinco anos para reverter as perdas que causou nos países industrializados. A retomada da criação de empregos deve ainda ficar para 2015.