Coutinho defende ajuste fiscal para reduzir juros

Para presidente do BNDES, juros menores vão exigir 'firmeza' nas contas públicas

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Foto do author Raquel Landim

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, defendeu ontem um ajuste das contas públicas para abrir espaço para reduzir os juros. Ele disse que o País pode "ambicionar" juros mais baixos, mas que isso "vai requerer firmeza na manutenção de uma trajetória fiscal de crescente fortalecimento das finanças públicas".Cotado para assumir o Ministério da Fazenda no governo Dilma Rousseff, o economista afirmou que a redução do déficit nominal e da relação entre a dívida líquida e o Produto Interno Bruto são "compromissos" da presidente eleita. "Esses compromissos vão criar condições para que o Banco Central, respeitada a sua missão de manter a inflação sob controle, retome a tendência de redução de juros."Coutinho estava respondendo perguntas de empresários reunidos ontem em São Paulo para almoço pela Câmara de Comércio França Brasil. A necessidade de ajuste fiscal no próximo ano provocou polêmica na campanha presidencial. Os assessores de Dilma deram sinalizações nessa sentido, que foram negadas pela então candidata. Em sua primeira coletiva depois de eleita, Dilma reafirmou as metas de superávit primário de 3,3% e de reduzir a dívida líquida em relação ao PIB de 43% para 38%. Auxiliares próximos já declararam que essa relação pode cair para 30% em 2014.O ajuste fiscal é defendido por economistas do mercado financeiro para desacelerar a economia e abrir espaço para corte de juros sem criar inflação. Com juros mais baixos, o Brasil se tornaria menos atrativo para os capitais especulativos, cuja entrada maciça está valorizando o câmbio e reduzindo a competitividade da indústria. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, não compartilha dessa visão e já disse que o gasto público no Brasil não é inflacionário. "É um grande equívoco. Não tem nada a ver A com B. Estamos com um dos melhores resultados fiscais do mundo", afirmou em entrevista à Globo News.Ao ser questionado pelos repórteres por detalhes de sua posição, Coutinho demonstrou desconforto e evitou polemizar com Mantega, que também é cotado para permanecer na Fazenda o governo Dilma. "Esse é um assunto de política macroeconômica. Eu apenas coloquei a perspectiva da presidente eleita, que também é uma perspectiva do ministro Guido, para o futuro. Não disse nada além nem aquém disso. Só referendei o que está em perspectiva".Sobre seu destino no novo governo, Coutinho disse que não comentaria os boatos, reafirmou que seu cargo está a disposição da presidente, mas que gostaria de permanecer no BNDES para implementar a agenda de criar um mercado de financiamento de longo prazo.Pacote. Coutinho antecipou que o pacote de incentivo aos bancos para conceder empréstimos de longo prazo deve ser divulgado a partir do dia 15 depois que Mantega retornar da reunião do G-20 na Coreia do Sul. As medidas, que foram discutidas com o setor privado, são necessárias para reduzir o papel do BNDES na economia.Ele confirmou ainda que um novo empréstimo do Tesouro ao BNDES deve ser anunciado até o fim do ano, mas não revelou valores. Segundo o Estado antecipou, o banco está solicitando R$ 60 bilhões, porque não poderia sair abruptamente do mercado. O objetivo é que a redução dos empréstimos do BNDES ocorra na medida em que o setor privado ocupe esse espaço.O BNDES também se tornou alvo de polêmica na eleição, porque recebeu R$ 180 bilhões do Tesouro para combater os efeitos da crise global. Esses recursos são subsidiados, já que o BNDES repassa a juros mais baixos que os pagos pela União. O governo argumenta que a ação contra a crise garantiu o crescimento e aumentou a arrecadação.

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