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Análise|Passada a eleição, é hora de cuidar do crescimento econômico com menor inflação

Recursos públicos gastos com moderação e bom planejamento podem resultar em maior expansão do PIB e em menor pressão inflacionária

Foto do author Rolf Kuntz

O custo de vida continua subindo, os preços ao consumidor aumentaram 0,44% em setembro, acumularam alta de 3,31% no ano, cresceram 4,42% em 12 meses e poderão bater em 4,55% até dezembro, segundo projeção do mercado. Se isso ocorrer, a inflação terá superado ligeiramente o teto da meta (4,50%). Eleitos ou reeleitos na disputa recém-terminada, prefeitos até poderão contribuir para a contenção dos gastos familiares, controlando as despesas da administração local. Mas será preciso muito mais que isso para vencer a carestia. A tarefa cabe e caberá principalmente ao presidente da República, figura pouco visível na sucessão municipal.

Candidatos e eleitores conseguiram arranjar-se muito bem nas eleições sem a presença mais sensível do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e também de seu rival, o condenado ex-presidente Jair Bolsonaro. Mas todos serão prejudicados - nas funções públicas, na gestão empresarial e no dia a dia da família - se o desarranjo dos preços se agravar ou simplesmente persistir.

Se os dirigentes do BC mantiverem os critérios seguidos nos últimos dois anos, o crédito continuará muito caro Foto: Caio/Adobe Stock

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O risco é apontado claramente nas projeções do boletim Focus. A inflação estimada para 2025 subiu em quatro semanas de 3,97% para 4%. As taxas calculadas para 2026 e 2027 permanecem bem acima, também, do centro da meta (de 3%). As previsões da taxa básica de juros, a Selic, ficaram inalteradas, mas em níveis elevados: 11,75% no fim deste ano, 11,25% em dezembro de 2025, 9,50% um ano depois e 9% em 2027.

Se os dirigentes do Banco Central (BC) mantiverem, de fato, os critérios seguidos nos últimos dois anos e recentemente reafirmados, o crédito continuará muito caro, afetando a vida empresarial, o consumo das famílias e também a gestão do Tesouro. Nesse ambiente, o crescimento da atividade e do emprego será dificultado, como se indicam, também, os números do Focus. O Produto Interno Bruto (PIB) ainda poderá crescer 3,08% em 2024, mas sua expansão deverá ficar em 1,93% em 2025 e em torno de 2% nos anos seguintes.

Não haverá como conter o desajuste fiscal, fechar o buraco das contas públicas e limitar seu efeito inflacionário, nos próximos anos, sem uma clara disposição presidencial de limitar os gastos do poder central. Os ministros do Planejamento e da Fazenda, Simone Tebet e Fernando Haddad, poderão apresentar novos planos de recuperação das finanças federais, mas seu trabalho terá valor meramente acadêmico, se faltar a cooperação do chefe de governo.

Os efeitos da gastança e do voluntarismo presidencial vão muito além do desarranjo fiscal e das pressões inflacionárias. Despesa realizada sem cuidadoso planejamento compete com a aplicação de recursos em objetivos bem escolhidos e importantes para o crescimento e a modernização da economia.

O Brasil tem investido menos de 2% do PIB em infraestrutura, segundo estudo citado em reportagem do Estadão. É necessário, de acordo com o estudo, pelo menos dobrar essa porcentagem. Capital privado pode cobrir parte do investimento, mas a participação do governo é indispensável. Além disso, é preciso cuidar também da manutenção da infraestrutura já disponível e também essa atividade requer muito dinheiro.

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Maior cuidado no uso de recursos públicos pode produzir, portanto, múltiplos benefícios. Verbas aplicadas com moderação e bom planejamento podem resultar, ao mesmo tempo, em maior expansão da economia e em menor pressão inflacionária. Falta convencer o presidente Lula da importante diferença entre gastar e gastar de forma cautelosa e produtiva. Se essa diferença for levada em conta, os cidadãos serão favorecidos tanto pela melhora da infraestrutura e dos negócios quanto pelo menor desarranjo dos preços.

Análise por Rolf Kuntz

Jornalista

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