O desempenho do Produto Interno Bruto (PIB), que é a medida de geração de riqueza da economia, funciona como uma espécie de farol. Ele sinaliza as expectativas das empresas, consumidores e governo em relação aos rumos da atividade.
Quando o PIB cresce, as empresas se animam, investem, contratam e produzem mais. O movimento é no sentido contrário quando o PIB perde força: há cortes na produção, demissões e investimentos são congelados. Neste ano, no entanto, a luz desse farol está ofuscada, especialmente por causa das incertezas em relação à eleição presidencial.
No começo do ano a expectativa era que a economia poderia crescer 3% em 2018. Agora o mercado cortou essa projeção pela metade. No primeiro trimestre, o PIB avançou 0,1% em relação ao último trimestre de 2017 – esse resultado foi revisado pelo IBGE, anteriormente havia sido divulgado um crescimento de 0,4%. No segundo trimestre, com os efeitos da greve dos caminhoneiros, o avanço foi de 0,2%.
“Houve um choque inesperado no segundo trimestre”, avalia o economista Fabio Silveira, sócio da MacroSector. Ele observa que, apesar de o resultado do PIB do segundo trimestre fazer parte do passado, ele afeta confiança dos consumidores e dos empresários para os próximos meses. Esses impactos somados à incerteza eleitoral devem retardar o ritmo de recuperação.
O economista pondera, no entanto, que esse fatores não estão levando a economia ladeira abaixo. Essa análise é evidente quando se olha para indicadores básicos. Juros, inflação e desemprego - este último apesar de ainda muito elevado -, estão em níveis melhores do que os registrados no mesmo período do ano passado.
Fabio Romão, economista da LCA Consultores, explica que um sinal claro de como anda a economia para o cidadão comum aparece no comportamento do emprego e na renda do trabalhador. “Mas não se trata de algo mecânico”, ressalta. Isto é, quando a economia vai bem, as contratações não aumentam imediatamente e vice-versa.
Segundo Romão, o emprego e a renda são fortemente influenciados pela confiança dos empresários e pelas decisões de investimentos. E neste ano, o cenário político também é uma das condicionantes, acrescenta. Esses fatores, na sua opinião devem levar a uma recuperação mais lenta da atividade.
Poder de compra. “O crescimento da economia perdeu ritmo”, afirma o economista-chefe e sócio da GO Associados, Eduardo Velho. O desempenho do PIB no segundo trimestre, segundo ele, já afeta a confiança dos empresários para investir e da população para consumir. A velocidade mais lenta de recuperação do emprego e o grande contingente de inadimplentes tiraram o fôlego do consumo, mesmo com a inflação controlada.
O economista explica que, em razão de aumentos de preços que houve no passado e da falta de dinamismo da economia para impulsionar contratações e o avanço da renda do trabalhador, o poder de compra do brasileiro diminuiu. Com isso, o consumo, a principal alavanca do PIB e capaz de tracionar a economia para frente, perde força. “A recuperação da atividade hoje é lenta e o ponto de transição será o desfecho das eleições”, conclui.
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