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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|A Argentina de novo na pior

País passa por mais uma crise socioeconômica grave com risco de hiperinflação e iminência de falência fiscal

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Atualização:

Mais do que acontece no Brasil, a economia da Argentina é ciclotímica. Está em crise crônica que, de tempos em tempos, descamba para uma crise aguda, como agora.

O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) é o único indicador que aponta para bom resultado neste ano: crescimento de 4%, segundo o Fundo Monetário Internacional. Mas a dívida em moeda estrangeira disparou, as reservas estão esgotadas, o dólar no câmbio paralelo avançou 42% neste ano, para 296 pesos por dólar na cotação da última sexta-feira, após atingir a cotação máxima de 350 pesos nas últimas semanas, e a inflação, em junho, saltou para 64% em 12 meses.

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Nesta quinta-feira, o presidente Alberto Fernández demitiu a ministra da Economia, a economista Silvina Batakis, a Breve, que ficou no cargo apenas 24 dias. E o adicional (risco país) pedido pelos credores para ficar com um título argentino saltou de 2.050 para 2.996 pontos (avanço de 20,5 pontos porcentuais ao ano acima da remuneração do Tesouro americano para quase 30 ponto porcentuais).

Para o lugar da técnica Batakis foi catapultado o político Sergio Massa, advogado e até agora presidente da Câmara dos Deputados, que assume com superpoderes. Ele não tem lá muita intimidade com assuntos econômicos, mas parece mais bem treinado para enfrentar gritaria e interesses contrariados. E é a melhor indicação para intermediar a tumultuada relação entre o presidente Fernández e a vice-presidente Cristina Kirchner.

A escolha para o cargo de alguém mais acostumado a lidar com conflitos mostra que o grande problema a equacionar é a distribuição de uma enorme conta a pagar por uma população cansada, composta por classes e agrupamentos carregados pela percepção de que vêm sendo gravemente prejudicados pelas políticas dos sucessivos ocupantes da chefia da Casa Rosada.

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Não há um problema principal a resolver. Está tudo imbricado. Há, simultaneamente, grave risco de hiperinflação, incapacidade de enfrentar despesas no exterior (crise cambial), estagnação do sistema produtivo, iminência de falência fiscal e enorme descontentamento entre as classes médias. Nessas condições, quase sempre a mãe de todos os problemas é o rombo das contas públicas que, do ponto de vista meramente técnico, exige austeridade, de que, nessas horas, ninguém quer saber, muito menos os governadores de província. E, no entanto, a austeridade é a exigência número um do FMI, que concedeu empréstimos para a Argentina de US$ 44 bilhões, a serem pagos entre 2026 e 2034, e cujas cláusulas a maior parte dos membros do governo pretende ignorar.

No currículo da vida pública de Massa não consta entusiasmo pela austeridade. Ele sempre foi grande gastador de recursos públicos. A pergunta de bilhões de dólares consiste em saber que malabarismos colocará em prática para manter tantos pratos a girar sobre a prancha, sem aprofundar o desastre.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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