Custo da dívida da Itália desaba

País conseguiu captar 10,7 bi no mercado, com queda de 50% na taxa de juros, em um sinal de confiança no governo de Mario Monti

PUBLICIDADE

Publicidade
Por JAMIL CHADE, CORRESPONDENTE e GENEBRA

Os mercados deram ontem um balão de oxigênio para que o governo do primeiro-ministro da Itália, Mario Monti, possa respirar. O custo de captação nos mercados despencou em Roma pela metade apenas em um dia, numa operação que foi considerada por Monti como um primeiro, ainda que temporário, voto de confiança às medidas de austeridade do novo governo. A taxa de juros cobrada nos papéis de seis meses caiu de 6,5% para 3,25%. No total, o Tesouro italiano captou 9 bilhões por meio desses papéis, com uma demanda quase duas vezes superior à oferta. "Essa foi a primeira notícia positiva vinda do mercado italiano desde julho", afirmou a Spiro Sovereign Strategy, em nota aos investidores. Em outra emissão, de 1,7 bilhão com vencimento em 2013, o risco país da Itália caiu de 7,8% para 4,8%. A emissão de papéis da dívida da Itália feita ontem estava sendo esperada com ansiedade pelo mercado. Por semanas, Roma foi o epicentro da crise europeia e chegou a pagar, nas últimas captações, juros equivalentes aos que Grécia e Portugal pagaram quando foram socorridos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). A emissão também revelou que bancos italianos e de outras partes do continente usaram parte dos quase meio trilhão de euros injetados pelo Banco Central Europeu (BCE) na semana passada para adquirir papéis da dívida pública. Só os bancos italianos teriam recorrido a mais de 100 bilhões do BCE. Dados publicados no mesmo dia mostraram, porém, que esses mesmos bancos não usaram os recursos nem para reativar linhas de crédito nem voltar a emprestar a outros bancos, fazendo o euro desabar e dando um sinal de que estão acumulando reservas para enfrentar meses difíceis em 2012. Mas, mesmo assim, a liquidez foi suficiente para contribuir para as emissões na Itália. O mesmo alívio já havia sido sentido pelos espanhóis há uma semana, quando também viram o custo de seu financiamento despencar.Um dos fatores que garantiu a procura pelos papéis italianos foi a disposição dos bancos em participar das emissões. As ações em Milão chegaram a saltar em 1,7%. Mas acabaram em terreno negativo depois que o Banco Central Europeu mostrou como bancos fecharam as torneiras no restante da Europa. Os bancos italianos sofreram duras quedas ao final do dia.Teste. O maior teste para os italianos, porém, virá hoje. Roma pretende emitir 8,5 bilhões em papéis com vencimentos entre três e dez anos. Por conta das incertezas em torno da recuperação da União Europeia, investidores podem exigir da Itália juros bem superiores ao que pediram ontem. A taxa de juros para papéis italianos com dez anos de vencimento tinha sofrido uma queda durante as primeiras horas do dia. Mas acabou terminando acima dos 7,0%, num sinal de que investidores podem ainda ter certas dúvidas. Roma precisa encontrar recursos no valor de 91 bilhões até abril apenas para conseguir honrar as dívidas."A demanda por papéis de curto prazo é boa. Resta saber o que ocorrerá com o que será colocado a leilão nesta quinta-feira (hoje)", alertou o Credit Agricole. Para tentar passar uma mensagem de confiança aos mercados, Monti reuniu o gabinete ontem para detalhar os planos de cortes de gastos e hoje deve anunciar as medidas que envolveriam uma redução do orçamento de 33 bilhões. Ainda assim, Monti preferiu comemorar ontem o voto de confiança dado pelos mercados e insistiu que se tratava de um sinal de que sua política de austeridade seria premiada. Nos últimos meses, governos na Itália, Espanha e Grécia foram substituídos por autoridades prometendo uma reviravolta na gestão das contas públicas para lidar com a dívida. Monti, porém, havia fracassado até agora em conseguir o apoio dos mercados.

Comentários

Os comentários são exclusivos para cadastrados.