O déficit comercial da zona do euro - que até o ano passado reunia 15 países da Europa - foi o maior desde o advento da moeda única, há dez anos. Segundo o Escritório de Estatísticas da Comunidade Europeia (Eurostat), o rombo na balança comercial chegou a 32,1 bilhões, revertendo o excedente de ? 15,88 bilhões de 2007. Enquanto a Alemanha ainda apresenta o cenário mais favorável, a França enfrentou o maior desequilíbrio, seguida pela Itália e pela Espanha. As primeiras estimativas do Eurostat revelam ao mesmo tempo o impacto da alta do preço do petróleo no primeiro semestre de 2008 e a amplitude da recessão no segundo. Desde 1999, a zona do euro havia conhecido apenas dois anos de balança negativa, mas sem jamais ultrapassar os ? 30 bilhões de déficit. As estatísticas também são negativas para o conjunto de 27 países-membros da União Europeia, que apresentaram déficit de ? 241,3 bilhões - um aumento de 25,4%. Dos cinco maiores mercados da Europa, quatro apresentaram déficits. O maior desequilíbrio foi verificado no Reino Unido (que não faz parte da zona do euro), onde as importações somaram, entre janeiro e novembro, ? 111,7 bilhões a mais que as exportações. Na França, o déficit no mesmo período foi de ? 64,2 bilhões. Itália e Espanha completaram o quadro das grandes economias com balança negativa. A Alemanha, apesar da crise, voltou a apresentar superávit - ? 168,2 bilhões, ante ? 183,8 bilhões no ano anterior. O excedente da União Europeia com os Estados Unidos diminuiu, enquanto o déficit com a China, a Rússia e a Noruega aumentou. As perdas, no entanto, caíram com o Japão, a Coreia do Sul e o Brasil. Embora ainda apresente excedente em relação aos europeus, o Brasil perdeu terreno: teve saldo positivo de 8,5 bilhões em relação à União Europeia, montante menor que em 2007, quando o superávit havia sido de ? 10,8 bilhões. Enquanto o Brasil importou 26% mais, as exportações não acompanharam o ritmo e cresceram 9%. PETRÓLEO De acordo com especialistas consultados pelo Estado, o recorde negativo da balança comercial europeia é fruto do aumento do preço médio do petróleo em 2008, somado à desaceleração das trocas mundiais, que prejudicou grandes exportadores como Alemanha, Holanda e Irlanda. "A zona do euro é estruturalmente superavitária. O ano de 2008 foi atípico porque foi determinado pelo aumento médio do preço do petróleo", ressaltou Christophe Blot, economista do Observatório Francês de Conjuntura Econômica (OFCE), de Paris. "Só no fim de 2008 a crise revela seu impacto." Para Blot, se a dinâmica do quarto trimestre se mantiver, a turbulência terá efeito pesado sobre a balança de países exportadores. O diagnóstico é semelhante ao de Hervé Monet, economista-chefe do banco Société Générale. "No último trimestre, grandes mercados importadores, como Estados Unidos e Reino Unido, Europa Oriental e partes da Ásia, sofreram uma contração enorme da demanda", explica. "Isso é o início da crise. Mas seus efeitos sobre o comércio são incertos porque, em 2009, o petróleo deve se manter em baixa e as trocas serão quase paralisadas", completa Monet.