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Desemprego fica em 9,3% no segundo trimestre, menor para o período desde 2015

Renda média real do trabalhador foi de R$ 2.652, queda de 5,1% na comparação anual

Por Vinicius Neder , Guilherme Bianchini e Marianna Gualter
Atualização:

RIO e SÃO PAULO - A queda no desemprego no segundo trimestre foi marcada por um recorde no total de ocupados. O País registrou entre abril e junho 98,269 milhões de trabalhadores ocupados, entre formais e informais, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgados nesta sexta-feira, 29, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa de desemprego, de 9,3%, é a menor para segundos trimestres desde 2015, quando ficou em 8,4%.

A geração de empregos levou o total de ocupados a 98,269 milhões, recorde da série histórica do IBGE, iniciada em 2012. Na comparação com o segundo trimestre de 2021, os dados apontam para a criação de 8.885 de empregos, entre formais e informais, ainda que paguem salários menores. Em um ano, o rendimento médio do trabalhou caiu 5,1%, corroído pela inflação elevada.

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Segundo Adriana Beringuy, coordenadora de Pesquisas Domiciliares do IBGE, a geração de vagas foi “disseminada”. Além disso, na passagem do primeiro para o segundo trimestre, foi puxada pelos postos formais. Ao longo da retomada após a economia ser atingida em cheio pela pandemia de covid-19, o motor da geração de empregos vinha sendo o setor informal. Segundo a pesquisadora, houve períodos em que as vagas informais responderam por “quase 80%” da expansão de empregos. No segundo trimestre deste ano, as vagas formais responderam por dois terços dos novos postos.

“É um dado forte, de desemprego caindo mais fortemente do que o esperado. O mercado informal se recuperou bem, mas o que surpreendeu foi o crescimento do emprego formal”, disse Natália Cotarelli, economista do Itaú Unibanco.

Fila para participar do mutirão do emprego em São Paulo, em maio; desemprego no segundo trimestre ficou em 9,3%.  Foto: Werther Santana/Estadão

Trabalho informal

Embora tenha perdido peso na composição do avanço no número de empregos, o trabalho informal continuou crescendo. O total de trabalhadores informais, de 39,286 milhões, foi recorde desde que o IBGE começou a agregar essas informações, no quarto trimestre de 2015. São 1,084 milhão de vagas informais a mais, na comparação com o primeiro trimestre. Com isso, segundo o IBGE, 40% dos ocupados no País estão em postos informais.

No setor formal, o IBGE registrou 908 mil empregos com carteira assinada, na passagem do primeiro para o segundo trimestre. Em um ano, são 3,685 milhões de empregos com carteira a mais. O movimento foi reforçado por postos no setor público, que podem não ser com contratação via CLT, mas são considerados formais. Tanto que, na análise por atividade econômica, a categoria “administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais” foi destaque. Foram 739 mil vagas a mais na passagem do primeiro para o segundo trimestre – 893 mil a mais em um ano.

Segundo Beringuy, dentro desse grupamento de atividade, o destaque foram os postos de trabalho na educação e na saúde, especialmente na educação fundamental, serviço prestado, predominantemente, pelas prefeituras. Muitas vezes são empregos temporários, mas são postos formais.

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Conforme a pesquisadora, normalmente, a ocupação em serviços públicos cresce nos segundos trimestres de cada ano. Só que, diferentemente do padrão, em 2020 e 2021, os crescimentos forma “tímidos”, provavelmente por causa das medidas de isolamento social para conter a pandemia. Escolas suspenderam as aulas e os serviços de saúde que não fossem dedicados ao tratamento da covid-19 foram de alguma forma atrapalhados. Agora, com a melhora dos indicadores da pandemia, pode ter havido uma volta “ao normal”.

Comércio

Entre as demais atividades econômicas, outro destaque foi o comércio. No intervalo de um ano, na comparação com o segundo trimestre de 2021, foram 2,356 milhões de vagas a mais no comércio, alta de 14,2% -- ante o trimestre anterior, foram 617 mil postos de trabalho a mais, alta de 3,4%.

Uma desaceleração na geração de vagas é esperada para o segundo semestre por causa dos efeitos da alta na taxa de juros sobre o ritmo do crescimento econômico, de acordo com Eduardo Vilarim, economista do Banco Original. A desaceleração também deverá se refletir numa queda mais lenta da taxa de desemprego, processo que tende a continuar ao longo de 2023, completou o especialista.

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Para alguns, essa desaceleração já pode ter começado em junho. Embora os dados do IBGE sobre o mercado de trabalho sejam trimestrais – divulgados mês a mês, mas sempre para um “trimestre móvel” –, diversos analistas de mercado estimam os dados para cada mês. Nas contas de Gabriel Couto, economista do Santander, a taxa de desemprego ajustada subiu de 8,9% em maio para 9,1% em junho. O número de ocupados cresceu apenas 0,8% no mês passado, conforme essa estimativa.

Por outro lado, para outros economistas, a desaceleração pode ser mais moderada do que o esperado, pelo menos neste terceiro trimestre. “A boa retomada do mercado de trabalho e as medidas fiscais, como a PEC (proposta de emenda à Constituição) dos Auxílios e redução de tributos, darão novo fôlego para a atividade econômica no terceiro trimestre”, disse Gustavo Sung, economista-chefe da consultoria de análise Suno Research.

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