Dirigentes do Fed citaram necessidade de cautela diante da incerteza ao manter juro nos EUA

Após o BC americano divulgar a ata da reunião de política monetária de janeiro, nesta quarta-feira, 19, o mercado manteve para julho a expectativa de retomada dos cortes de juros nos EUA

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Foto do author Pedro Lima
Por Thais Porsch (Broadcast), Francine De Lorenzo, Patricia Lara e Pedro Lima
Atualização:

Na ata da mais recente reunião do Federal Reserve (Fed) — o banco central americano —, divulgada nesta quarta-feira, 19, os dirigentes da autoridade monetária destacaram a necessidade de uma “abordagem cautelosa” diante do atual “alto grau de incerteza” sobre a trajetória da economia.

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A cautela é justificada pelos “riscos de alta à perspectiva de inflação”, citados no documento, além da incerteza em relação à “taxa neutra de juros” (o porcentual que não acelera nem desacelera o crescimento e, consequentemente, a inflação).

Após o BC americano divulgar a ata da reunião de política monetária de janeiro, o mercado manteve para julho a expectativa de retomada dos cortes de juros nos EUA. Logo após a divulgação do documento, a ferramenta FedWatch do CME Group mostrava chance estimada de corte de 58,7% nos juros americanos em julho, primeiro mês em que a probabilidade supera 50%.

O cenário mais provável para julho continua sendo de corte de 0,25 ponto porcentual (44,2%), enquanto as apostas para redução de 0,50 ponto porcentual subiram ligeiramente, de 12,3% na terça-feira, 18, para 13,3% após a ata. A chance de manutenção era de 41,3%.

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O presidente do Fed, Jerome Powell, falou ao Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos EUA em audiência sobre o Relatório Semestral de Política Monetária, no Capitólio, em Washington, na quarta-feira, 12 Foto: Jose Luis Magana/AP

O mercado também reforçou a expectativa de apenas um corte de juro, de 0,25 ponto porcentual, no acumulado de 2025 (36,1%). Já a chance do Fed manter os juros inalterados em 2025 era de 17,2%, ante 18,7% ontem, de acordo com o CME.

Na ata, o Fed reafirma o ritmo “sólido” da economia americana e aponta os riscos de alta para a inflação como argumento para cautela.

Os participantes do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) do Fed reforçaram que “precisam de progresso adicional na inflação” antes de considerar novos cortes na taxa básica de juros.

A inflação, embora tenha mostrado sinais de desaceleração, ainda está acima da meta de 2% do Fed, e os dirigentes avaliam que “fatores como mudanças na política comercial e na imigração, além da forte demanda do consumidor, podem dificultar o processo de desinflação”.

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A ata também destacou que a política monetária atual permanece “restritiva”, e os dirigentes afirmaram que “não estão em um curso predeterminado”, com decisões futuras dependendo da evolução dos dados econômicos.

Os dirigentes do Fed apontaram que os indicadores recentes sugerem que a atividade econômica dos Estados Unidos segue em “ritmo sólido”.

“Dados recentes sugeriram que as condições do mercado de trabalho permaneceram sólidas e que o mercado de trabalho não estava especialmente apertado”, diz o documento do encontro realizado em janeiro.

Além disso, o Fed destaca que a taxa de desemprego também se manteve baixa nos EUA.

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O que o Fed diz sobre a dívida americana

O presidente dos EUA, Donald Trump, tem defendido abertamente a elevação ou extinção do teto da dívida americana.

Os dirigentes da autoridade monetária discutiram “estratégias alternativas sobre compras de ativos do Tesouro” no mercado secundário, como parte do plano de implementação da política de redução do balanço patrimonial (os ativos e passivos da instituição). O objetivo é alinhar a composição de vencimentos da carteira de títulos do Fed com a estrutura da dívida pública dos EUA.

O documento destacou que “pagamentos de principal de títulos lastreados em hipotecas (MBS) poderiam ser direcionados a compras de ativos do Tesouro” no mercado secundário.

Essa estratégia visa “implementar a política de redução do balanço patrimonial”, conforme estabelecido nos Princípios e Planos do Fed para diminuir o tamanho de seu balanço.

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Além disso, os dirigentes da autoridade monetária mencionaram que a “discussão sobre estratégias para o balanço patrimonial citou alguns cenários”. Esses cenários estão relacionados à forma como o Fed pode ajustar sua carteira de títulos do Tesouro no mercado secundário, conforme avança no processo de redução do tamanho de seu balanço.

A ata do Fed, no entanto, não detalhou os cenários específicos, mas reforçou que o objetivo é alinhar a composição de vencimentos dos títulos da carteira do BC americano com a estrutura da dívida pública americana, garantindo que a redução do balanço ocorra de forma ordenada e sem causar disrupções nos mercados financeiros.

O Fed sinalizou a possibilidade de interromper ou desacelerar o processo de redução do seu balanço patrimonial até que o impasse sobre o limite da dívida do país seja resolvido. A medida foi discutida por “vários participantes” na reunião.

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O texto destaca que, diante do risco de oscilações significativas nas reservas bancárias nos próximos meses — em decorrência das incertezas relacionadas ao teto da dívida —, pode ser “apropriado considerar pausar ou desacelerar a redução do balanço patrimonial até a resolução desse evento”.

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