Em 4 de junho de 2008, o Banco Central estava otimista com o quadro internacional, especialmente com a maior economia do mundo. "A tese de recessão nos Estados Unidos perde força e representa alívio para o crescimento global", citava a apresentação feita naquele dia durante a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Três meses depois, porém, o futuro se mostrou muito mais nebuloso: o banco Lehman Brothers quebrou e deflagrou a maior crise financeira global desde 1929. Ontem, o BC anunciou que vai divulgar as apresentações técnicas feitas nas reuniões do Copom que definem o rumo da taxa de juro básico, a Selic. Os documentos serão apresentados quatro anos após os encontros e trechos poderão ser mantidos em sigilo, como prevê a lei. Entre os documentos liberados, o mais recente trata da reunião daquela quarta-feira de junho de 2008. Naquele encontro, o Departamento das Reservas Internacionais (Depin) fez, como sempre, um panorama do ambiente internacional. Nesse trecho da reunião, os diretores ouviram explicações sobre o pacote fiscal anunciado pela Casa Branca. Para o Depin, as medidas aumentariam a liquidez no mercado americano e traziam "alívio de curto prazo" aos EUA. Além da percepção relativamente tranquilizadora sobre o país, o Depin dizia que havia demanda pelos produtos básicos, como o petróleo.Diante de um quadro supostamente menos tenebroso nos EUA e com preços das commodities em alta, o Comitê decidiu, por unanimidade, elevar novamente o juro em 0,5 ponto, para 12,25% ao ano. Nos dois meses seguintes, a Selic não apenas continuou em alta, como o ritmo foi reforçado: juro de 13% em julho e 13,75% em 10 de setembro, exatamente cinco dias antes da quebra do banco americano. Ontem, o BC liberou apresentações feitas em reuniões realizadas entre maio de 1999 e junho de 2008. Nesses documentos, parte das informações foi excluída. Isso ocorre sempre que, no entender do BC, a divulgação pode ferir alguma legislação. No encontro de junho de 2008, há 40 trechos excluídos.