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Dólar faz importados perderem espaço nas prateleiras

Por Agencia Estado
Atualização:

As bebidas e alimentos importados, embora continuem na lista de compras do consumidor da classe média alta, com o dólar a mais de R$ 3 há quase um mês começaram a perder espaço nos carrinhos de supermercados para similares estrangeiros ou nacionais, mas com preços mais atrativos. "A faixa de público de maior poder aquisitivo não deixa de comprar, mas está mais seletiva e tem reduzido volumes. Quem levava seis garrrafas de vinho, por exemplo, leva quatro ou procura outro mais barato", exemplifica o diretor da Santa Luzia, Jorge Conceição Lopes, que oferece na loja, na Alameda Lorena, na região dos Jardins, um mix de 50% de produtos importados e 50% nacionais. Na semana passada ele trabalhava com um dólar médio de R$ 2,70, mas continuava acompanhando de perto as variações do câmbio para repasses necessários. "Não deixamos de comprar nada porque nosso cliente quer diversidade, mas calculamos que um contêiner que demoraria 60 dias para ser vendido, agora vai demorar três meses", observa. Outro cuidado foi reduzir o volume importado de perecíveis. "Diminuímos de uma tonelada para 500 quilos a quantidade de queijos vindos de fora, para ajustar o volume ao consumo. Se for necessária uma reposição de última hora, importamos o produto de avião e reduzimos nossa margem", diz. O salmão, com um aumento de 15% no preço, também teve redução de consumo. Frutas como cerejas dos Estados Unidos, com a mesma faixa de reajuste, tiveram um corte de 25% no volume importado. Estas adaptações no volume e valor dos importados não derrubaram o faturamento da Santa Luzia, porque a alta do dólar trouxe outro tipo de compensação que equilibrou as vendas. "Em julho tivemos muitas encomendas de uma parte da clientela que trocou a viagem ao exterior por temporadas maiores no interior, em fazendas e casas de campo," diz. A repercussão do dólar nas gôndolas dos supermercados convenceu Neuza Jurça Gresse, consumidora habitual de importados a migrar para os produtos nacionais. "Risquei os franceses brie e camembert e estou dando preferência aos nacionais. Um pedacinho de queijo a R$ 18, não dá," comenta, referindo-se a um produto francês de pouco mais de 100 gramas. "Também não compro mais molhos importados, presunto italiano, na faixa de R$ 75 o quilo, e estou mais seletiva com os vinhos e licores. Regulando estes gastos consigo uma redução de quase 40% no supermercado", diz. Vinho húngaro A dona de casa Dorothea Saukas, que na semana passada procurava uma mostarda francesa num supermercado perto de sua casa, no Alto de Pinheiros, já se convenceu de que, mais do que nunca, é preciso avaliar muito bem a relação custo-benefício do importado. "A mostarda importada é bem mais cara que a nacional, mas pela sua qualidade e durabilidade, compensa. Mas um vidro de mango chutney inglês, que foi para R$ 20, não compro mais", diz. Com a experiência de ter morado no exterior um ano, ela tem sido também mais criteriosa na compra de vinhos. "Os húngaros são de excelente qualidade e têm preços acessíveis." O engenheiro Geraldo Siqueira aproveita as promoções de vinhos importados para reforçar seu estoque. "Estou de olho nas prateleiras e aguardo oportunidades. Noto que os preços subiram de 30% a 50%, dependendo da bebida", diz. Há poucos dias ele trocou um vinho francês com reajuste de 30% por outro argentino, segundo ele, de qualidade semelhante. "Uísque e conhaque são por conta do meu filho, que compra as bebidas em free shops." A importadora Expand tem investido mais na promoção de vinhos e na aquisição de produtos de boa qualidade e preços mais acessíveis para fazer frente ao novo cenário de reajustes."Reduzimos o volume de compras dos franceses em torno de US$ 100 e reforçamos a importação de sul-africanos, sul-americanos, portugueses e espanhóis em torno de US$ 30, que têm ótima aceitação no mercado", diz a diretora de marketing da importadora, Virgínia Kusiak de Souza Meirelles. A empresa tem trabalhado com duas cotações de dólar - um promocional para uma relação de 300 vinhos, e outro a R$ 2,88 para os itens fora da promoção. O consumidor de alto poder aquisitivo, observa Virgínia, sente menos no bolso o reajuste, mas não deixa de ser cauteloso na hora da compra e procura os itens mais sofisticados e caros para datas especiais. Outra importadora, a La Pastina, com uma carteira de 3 mil clientes entre grandes redes de supermercados, lojas menores e restaurantes, não tirou produtos de linha, mas o reajuste médio de sua tabela era de 15%, para ser repassado na última semana. "Além do problema do dólar a valorização do euro deixou os importados europeus mais caros ainda", diz o diretor da empresa, Celso La Pastina. Até o momento, acrescenta, as redes não reduziram compras, porque seria precipitado. "Podemos ter uma melhora cambial ou uma estabilização e o mercado se adapta." A diretora de importados de uma grande rede de varejo conta que as negociações com os fornecedores têm sido intensas porque se o comércio incorporar um aumento de dólar irreal ao produto, depois será difícil voltar atrás se houver um recuo no câmbio. "Perdemos o consumidor e as vendas." A observação do presidente da Associação Paulista dos Supermercados (Apas) é idêntica. "Se for repassado um custo desnecessário não tem volta, e o consumidor que já vem substituindo produtos, comprando com mais cautela e se queixando de aumentos será mais prejudicado."

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