É cedo para o Brasil emitir títulos, avaliam analistas de Londres

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Por Agencia Estado
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Apesar da melhora do sentimento dos investidores estrangeiros em relação ao Brasil e o sucesso nos últimos dias das operações de financiamento externo realizadas por alguns bancos do País, ainda é cedo para que o governo brasileiro cogite promover uma emissão de títulos soberanos, afirmam analistas do mercado financeiro de Londres ouvidos pela Agência Estado. Segundo eles, o risco Brasil, apesar de ter caído abaixo dos 1.300 pontos base, ainda está num nível que torna proibitivo a retomada do financiamento externo do País. Além disso, alertam os analistas, o processo de conquista da confiança com os mercados pelo novo governo ainda está começando e precisa ser consolidado. O retorno das emissões soberanas brasileiras em 2003 não é considerado necessário. Com o aporte de US$ 30 bilhões do FMI e o ajuste nas contas externas do País nos últimos meses, o Brasil tem condições de atravessar este ano sem recorrer ao financiamento externo. Mas, segundo analistas, é fundamental que o País volte a realizar captações externas com sucesso até dezembro para sinalizar que terá condições de gerenciar as obrigações externas. Janela Como disse o diretor da agência de classificação de risco Fitch, Richard Fox, o Brasil "precisa aproveitar a janela de oportunidade oferecida pelo acordo com o Fundo e recuperar o acesso aos mercados até o final de 2003, consolidando a recuperação da confiança entre os investidores." Para o diretor da corretora britânica Liabilities Solutions, Wilber Colmerauer, é preciso ser cauteloso com a "onda de euforia" que tomou conta de boa parte do mercado brasileiro nos últimos dias. "Sem dúvida, houve uma melhora significativa na percepção do mercado, os integrantes do governo vêm falando coisas sensatas", disse. "Mas estamos completando apenas dez dias de novo governo e a equipe econômica ainda não foi testada, o que certamente acontecerá cedo ou tarde." Incertezas continuam Segundo ele, o clima mais positivo que predomina no mercado externo desde o final de 2002 ajudou na melhora no Brasil. "Mas nada mudou no clima de incertezas globais, permanece a questão do Iraque, a crise na Venezuela e as dúvidas sobre a recuperação da economia norte-americana e poderemos ver novas pressões externas negativas sobre o Brasil." Para Colmerauer, ainda há um longo caminho a ser percorrido pelo novo governo para a retomada do acesso aos mercados externos. "O risco Brasil precisa cair muito mais antes disso, e para que essa queda seja sustentável, será preciso que o novo governo traduza as suas intenções em atos concretos." Prematuro O economista sênior do fundo de investimentos Poalim Asset Management, Peter West, também não crê no retorno das emissões soberanas no curto prazo. "É prematuro falar nisso. Sem dúvida, as coisas melhoraram muito para o Brasil nas últimas semanas, mas os spreads (diferença de juros) pagos pelo País ainda estão muito elevados, o custo das captações seria elevado demais", disse West. "Ainda estamos no estágio inicial da recuperação de confiança dos mercados, o governo precisa promover a reforma da Previdência, conceder autonomia ao Banco Central e continuar fortalecendo esse sentimento positivo inicial."

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