É preciso muito mais para conter a recessão

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Por Alberto Tamer
Atualização:

A recessão acabou? Não seria hora de rever a atual política de estímulo fiscal que está gerando endividamento e déficit considerados perigosos pelos ministros das Finanças e respeitados economistas? A pergunta seria apenas retórica se a resposta não pudesse implicar parar tudo o que está dando certo para conter a crise, pelo menos em países como Brasil, Estados Unidos e China, que optaram por dar prioridade ao crescimento a qualquer custo. O tema ganhou importância nas reuniões do G-8 e G-20, que se realizam agora na Itália. As últimas informações indicam algum desacordo entre os sete, com a Alemanha insistindo que a policia atual é perigosa e precisa ser revista. Angela Merkel teme que os estímulos desequilibrem ainda mais as contas do governo, mesmo sabendo que sem ele e a assistência ao sistema financeiro a economia alemã vai afundar ainda mais que os 4,6% atuais. O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, foi ousado. Não só é preciso manter a atual política fiscal, mas, insistiu, aplicar uma segunda rodada de estímulo. Ele está certo; ela, errada. Aliás, só vem errando até agora. Obama se limitou a dizer que "o endividamento é potencialmente contraprodutivo". No comunicado oficial, o grupo se compromete em "manter o suporte à demanda, restaurar o crescimento e manter a estabilidade financeira". Faltou uma posição mais clara quanto à política pós-crise, que, pelo teor geral do documento, deveriam ser adiadas. O grupo limitou-se a dizer que concorda com a necessidade de preparar uma estratégia adequada para quando "a recuperação for assegurada, mas isso será feito por cada país, isoladamente". Espera-se que o G-20 aprove essa linha e saia da Itália convencido de que, sem a necessidade ainda de um forte apoio do Estado, mesmo ao custo de endividamento e déficits em curto prazo, a recessão só tende a se prolongar. Isso é muito válido para o Brasil, onde as medidas anticíclicas evitaram que fôssemos mais contaminados pela recessão mundial. O grande argumento dos economistas e acadêmicos em defesa da revisão é que "não estamos pondo em risco o futuro". Quem afirma isso se esqueceu a grande verdade dita por Keynes: "No futuro, estaremos todos mortos..." FMI DIZ PARA SEGUIR O relatório do FMI fortalece a política atual. As condições financeiras têm melhorado, uma política sem precedente de intervenção reduziu o risco de colapso sistêmico, mas a recessão não passou, a economia vai recuar 1,4%, e a recuperação no próximo ano é lenta; prevê um crescimento mundial de 2,5%. Mas isso se a atual política fiscal e financeira for mantida. A economia enfrenta ainda riscos significantes e é cedo para desfazer o que está sendo feito, afirma o FMI. Uma frase de Olivier Blanchard, do FMI, resume tudo: "A boa notícia é que a força que empurra para baixo diminuiu. A má é que a força que empurra para cima é fraca". Resumindo, não é hora de mudar nada, mas intensificar ainda mais o que vem sendo feito. Nas principais economias mundiais e principalmente no Brasil onde os investimentos oficiais e privados, decididamente, são insuficientes para sustentar a o crescimento em 2010. Avançar, como propõe Gordon Brown, e não temer demais as incertezas de um futuro que, se não recuarmos, certamente será bem pior. OLHA AÍ 1937! Apesar disso, muitos governos estão sendo pressionados para reduzir investimentos e conter o endividamento. Paul Krugman teme que se repita o passado. Uma vez aliviados da crise de 1930, por pressão semelhante à atual, embora menos forte, Roosevelt reviu sua política, desfez parte do que havia feito, aumentou impostos e a crise voltou com força, derrubando novamente a economia. Só foi superada mesmo com a 2ª Guerra, que exigiu gastos excepcionais e reergueu a economia. Krugman alerta para que Obama não tenha o 1937. E há pressões para que isso ocorra. Nenhum país ou bloco, como os EUA e a UE, com desemprego perto de 10% (o nosso caminha para aí, se nada mais for feito) pode dizer que a crise passou. NÃO APRENDEMOS NADA... .... dessa reunião porque não tínhamos nada a aprender. Além disso, esses encontros, importantes, sim, como troca de ideais e propósitos, têm se mostrado inconsequentes. Ninguém cumpre o que promete e cada um tenta enfrentar a crise a seu modo. Não houve nada nem mesmo quando se chegou ao ponto mais alto da recessão. E a crise seria mais profunda se não fossem politicas isoladas de alguns países, como os EUA, a China, a Grã-Bretanha, que adotaram, deve ser lembrado, a estratégia anticrise já em prática no Brasil, assim que a recessão se anunciou. A lição para nós é que devemos fazer mais do que já estamos fazendo, enquanto eles ainda discutem o que pretendem fazer. O chato é que, enquanto eles não se aprumam, temos de nos virar sozinhos... *Email: at@attglobal.net

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