A pesquisa de 2015 da consultoria revela que o mercado mundial de comidas e bebidas orgânicas, funcionais e ligadas à saúde e ao bem-estar gerou receitas de 726 bilhões de dólares. O Brasil é o quinto maior mercado de alimentos saudáveis, movimentando 27,5 bilhões de dólares. No período entre 2010 e 2015, o crescimento acumulado brasileiro foi de 44%, quase o triplo da média mundial (15%).
"Há um mercado consolidado de comida saudável na Europa e nos Estados Unidos, que querem consumir produtos frescos e com poucos aditivos químicos. No Brasil, essa procura tende a crescer, principalmente pela demanda de alimentos com mais qualidades nutritivas", de acordo com Juliano Assunção, diretor da organização Climate Policy Initiative no Brasil e professor do Departamento de Economia da PUC-Rio.
Nos supermercados, é possível constatar que os consumidores estão se interessando mais por comidas e bebidas com baixos componentes químicos. Pesquisa da Kantar Worldpanel de julho de 2015 sobre hábitos de consumo revela que 79% dos consumidores admitiram ter substituído a alimentação convencional por comidas mais saudáveis.
Em alguns casos, categorias tradicionais registraram queda nas vendas. Como a de açúcar refinado, que recuou 7% no primeiro semestre comparado ao mesmo período do ano passado. Em contrapartida, a procura pela versão demerara, sem aditivos químicos, subiu 47% e a de orgânico, 88%. As vendas de massa seca mostraram crescimento de 4%, porém a versão integral cresceu mais: 11%.
A Korin foi uma das empresas que acompanhou a expansão do segmento de alimentos saudáveis. "Crescemos acima do mercado no ano passado", segundo Reginaldo Morikawa, diretor superintendente da Korin. Um dos motivos para o bom desempenho é a alta procura por esses produtos. O executivo cita a criação de trutas de forma natural, sem aditivos e antibióticos, na Serra da Mantiqueira (MG). "Lançamos em julho e a aceitação tem sido ótima." Além da truta, a Korin produz carnes bovinas e aves de forma orgânica.
Em 2012 e 2013, a Korin venceu o Prêmio ECO com técnicas de criação de aves que respeitam o ciclo de vida na natureza e sem aditivos que aceleram o crescimento. A ração dos animais é de origem vegetal. Para atender ao mercado de hortaliças, as plantações da propriedade não recebem agrotóxicos ou fertilizantes químicos.
Na Bahia, o palmito de pupunha da Cooperativa dos Produtores de Palmito do Baixo Sul da Bahia (Coopalm) é produzido conforme princípios sustentáveis e de inclusão social. O palmito cultivado pelos pequenos agricultores não é orgânico.
O ciclo natural do palmito de pupunha é de três anos para maturação, mas fertilizantes aceleram o processo de colheita em cerca de um ano. "Nossos cooperados são pequenos agricultores e não podem esperar tanto tempo para ter retorno financeiro", disse Josimar Cícero da Silva, diretor executivo da Coopalm.
A cooperativa está se preparando para produzir cacau, guaraná e cravo de forma orgânica, acrescenta o diretor. A Coopalm conquistou um Prêmio ECO em 2011 na modalidade Sustentabilidade em Processos. De modo geral, empresas que vendem alimentos com apelo saudável seguem princípios de sustentabilidade. A engenheira agrônoma Araci Kamiyama, membro do conselho deliberativo da Associação de Agricultura Orgânica (AAO), afirma que o incentivo à agricultura orgânica é uma forma de criar impactos ambientais menores e melhorar o aproveitamento dos recursos naturais. "O cultivo sustentável é capaz de atender à demanda mundial de alimentos. Mas isso também passa por questões de incentivo público e conscientização do consumidor."
O espaço para crescer no mercado de alimentos saudáveis no Brasil ainda é muito grande, se comparado ao resto do mundo. A produção nacional tem que crescer em 20% até 2020 para atender à demanda mundial, segundo o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues. E os alimentos saudáveis podem responder por uma fatia cada vez maior desse mercado.
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