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Censo começa a coleta de dados com déficit de recenseadores

Com dois anos de atraso, a coleta começa nesta segunda, com a pretensão de visitar cerca de 75 milhões de domicílios de todo o País

Por Gabriel Vasconcelos (Broadcast)
Atualização:

Após dois anos de idas e vindas sobre a realização do Censo Demográfico, a coleta de dados da população começou na manhã dessa segunda-feira em todo o Brasil. No horizonte, porém, ainda há dificuldades, como um déficit de recenseadores maior que o de edições anteriores. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ainda tenta recrutar 15 mil entrevistadores para chegar ao número ideal de 183 mil funcionários temporários.

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Os entrevistadores do IBGE vão percorrer os mais de 5,5 mil municípios em esforço planejado até o fim de outubro. Os primeiros resultados devem ser divulgados em dezembro. O IBGE prevê recensear cerca de 215 milhões de habitantes ao visitarem cerca de 78 milhões de domicílios.

Na cerimônia de abertura do Censo, nesta segunda-feira, 1º, no Museu do Amanhã, no centro do Rio, a direção do instituto minimizou a falta de funcionários, que atribuiu à pandemia de covid-19 e aos adiamentos da pesquisa. O IBGE também negou o risco de falta de verba para a operação. O instituto conta com R$ 2,3 bilhões para o Censo, dotação definida ainda em 2019 pelo Ministério da Economia. Desde então, a inflação acumulada majorou os custos da pesquisa. O diretor de pesquisas do IBGE, Cimar Azeredo, que já se disse preocupado com essa defasagem, afirmou a jornalistas que houve um ajuste de custos e que não é necessária nenhuma complementação orçamentária no momento.

“Se for preciso fazer algum replanejamento em função de algum problema durante o Censo, isso vai ser feito. A gente tem a garantia do Ministério da Economia de que se precisar, mesmo iniciada a operação, a gente vai conseguir finalizar”, ponderou. Sobre custos, Azeredo disse que o Censo foi em parte barateado e facilitado por soluções tecnológicas, além de uma cooperação para compra de materiais pelo Ministério da Saúde, que serão devolvidos à pasta ao término da pesquisa.

Agruras

Em discurso enviado por vídeo, o presidente do IBGE, Eduardo Rios Neto, disse que o corpo técnico do órgão “enfrentou as agruras de dois adiamentos do Censo, mas chegou ao melhor formato que se podia imaginar”.

“Teremos adversidades, mas estamos preparados para superá-las”, disse Rios Neto. Ele não compareceu ao evento porque está em Brasília, para fazer pessoalmente a entrevista censitária do presidente Jair Bolsonaro (PL), no Palácio do Planalto, segundo ele uma praxe da operação.

Antes previsto para 2020, o Censo foi adiado para 2021 em função da pandemia e, depois, para 2022, em função de restrições orçamentárias impostas pelo Ministério da Economia. A última das polêmicas envolvendo a pesquisa foi a não inclusão de perguntas sobre gênero, recomendadas por especialistas e organismos internacionais. O IBGE alegou dificuldade para contemplar o aspecto pouco tempo antes do início dos trabalhos e, também, o fato de um representante da família responder pelo domicílio, o que poderia ofuscar questões de ordem íntima.

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Censo Demográfico sofreu com falta de verba nos últimos anos Foto: Fabio Motta/Estadão-20/2/2019

Polarização

Azeredo disse que o IBGE está atento à profusão de “fake news” que podem atrapalhar a operação. Ele também esboçou preocupação com o fato de o Censo correr paralelamente às eleições de outubro, marcadas pela polarização. Sobre isso, disse que os recenseadores foram orientados a não tocar no assunto.

“Teremos eleições polarizadas em outubro e é preciso tirar o Censo disso, para que seja encarado como uma campanha de Estado. É IBGE num canto e eleição no outro. Política é importante, só que o IBGE não pode se misturar com isso”, disse em discurso.

Os recenseadores foram orientados a não falarem de política, futebol e outros temas polêmicos, sobretudo em municípios menores, onde a população se conhece. “O Censo não é do IBGE e nem do governo. É fundamental que a população veja que o benefício do Censo vai trazer, independente do governo. Seja o partido vermelho, azul, amarelo, preto, A, B ou C. Não importa. O que importa é que o Censo é do Brasil, que vai privilegiar qualquer político que assuma o país. Vai dar um (sobre a população) termômetro para esse político”, disse Azeredo.

Sobre notícias falsas, Azeredo diz que elas vão aparecer porque é o primeiro censo realizado em meio à ampla utilização de redes sociais pela população. “As fake news vão aparecer, e vamos ter de derrubar cada uma delas”, disse.

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Para tanto, diz ele, o IBGE vai lançar mão, por exemplo, de tecnologia de mapeamento por GPS para chegar a todos os domicílios do país com maior precisão. E, a fim de evitar boatos de não apuração de domicílios, a população não visitada até outubro será instada por uma campanha publicitária a ligar para um número de três dígitos para marcar a entrevista e a contabilização de seus dados na pesquisa.

O índice de não captação esperado para o Censo, disse Azeredo, é de 8%, devido a recusas de entrevistas, domicílios fechados e demais obstáculos. Mesmo assim, ele garantiu que este Censo será o mais preciso da história da pesquisa decenal, devido a utilização de tecnologias como o mapeamento de coordenadas por GPS, envio de informações diretamente do local das entrevistas e utilização de ‘dashboards’ em tempo real.

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