O pedido de demissão do executivo Wilson Ferreira Júnior da presidência da Vibra Energia pavimentou o retorno do executivo à Eletrobras, companhia que conduziu de 2016 até março de 2021. Agora, seu nome deve ser referendado pelo novo conselho de administração da empresa, que será eleito dia 5 de agosto.
Pelo trabalho realizado à frente da empresa, Ferreira Júnior era o mais cotado por investidores e por agentes do setor elétrico para assumir a empresa agora sob gestão privada e avançar na estruturação de uma “nova Eletrobras”. Procurado, o executivo não retornou os contatos da reportagem do Estadão.
O mercado está de olho na companhia após a oferta de ações na Bolsa, no início de junho, por meio da qual o governo deixou de ser o acionista controlador da companhia de energia. Foi a maior transação realizada na B3 neste ano e movimentou muitas pessoas físicas, que puderam usar parte do saldo do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para adquirir os papéis. A demanda por cotistas superou os R$ 6 bilhões projetados.
No período em que dirigiu a agora ex-estatal, Ferreira Júnior foi responsável por ambicioso plano de reestruturação, que consistiu no saneamento das contas e na venda de ativos, deixando a empresa mais enxuta. Sob sua gestão, a Eletrobras reduziu custos de pessoal, materiais, serviços de terceiros e outros, que caíram de R$ 12,8 bilhões para R$ 9,1 bilhões entre 2016 e 2020.
Em relação ao endividamento, a gestão foi marcada por redução da alavancagem – de 3,6 vezes a dívida líquida/Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações), em 2016, para 1,5 vez, quatro anos mais tarde.
Paralelamente à reestruturação financeira, o executivo foi o principal responsável por construir as bases da privatização da Eletrobras, concluída neste ano, já sob a gestão de Rodrigo Limp. Em sua saída, Wilson Ferreira sinalizava qual caminho a Eletrobras deveria trilhar após se tornar privada: gerar ganhos operacionais, se tornar mais eficiente, e voltar a investir.
Por conta disso, no dia do anúncio da saída de Ferreira Júnior da Vibra, companhia que assumiu no ano passado após deixar a Eletrobras, as ações da empresa deram novo impulso, e a Eletrobras ON terminou o dia cotado a R$ 44,37. Na sexta-feira, o papel já era negociado próximo a R$ 45.
‘General’
Fonte do mercado que prefere não ter o nome divulgado disse que “Wilson volta à Eletrobras porque esse foi o principal projeto da vida dele. E ele volta para a maior empresa de energia elétrica da América Latina após ser o principal ‘general’ das mudanças na Eletrobras enquanto estatal”. Em relatório, a Eleven Financial destacou que o retorno do executivo representa a continuidade do processo de revitalização do negócio.
Wilson volta à Eletrobras porque esse foi o principal projeto da vida dele. E ele volta para a maior empresa de energia elétrica da América Latina após ser o principal ‘general’ das mudanças na Eletrobras enquanto estatal”
Eleven Financial
Em relatórios recentes, o analista do banco UBS, Giuliano Ajeje, disse o novo presidente da Eletrobras terá pela frente a missão de realizar uma transformação na empresa, o que exigirá conhecimento do setor, gestão de pessoas e habilidades políticas. Para o sócio da Mundo Investimentos, Eliel Lins, Ferreira Júnior possui essas qualidades: “É visto com bons olhos pelo mercado, profissional com vasta experiência no setor elétrico e passagens pela Rio Grande Energia, CPFL e pela própria Eletrobras”.