Emergentes devem resistir à tentação de ampliar gastos, diz FMI

Fundo adverte contra altas de preços das commmodities e grande fluxo de capitais para conter déficits.

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Por Alessandra Corrêa

Um relatório divulgado nesta terça-feira pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) afirma que as perspectivas fiscais para os emergentes são mais favoráveis do que as das economias avançadas, mas alerta para os riscos de aumento de gastos. "As economias emergentes devem resistir à tentação de aproveitar os ventos favoráveis no curto prazo para aumentar os gastos e optar por reconstituir suas reservas fiscais", diz a mais recente edição do relatório Fiscal Monitor, lançada em Washington, às vésperas da reunião de primavera do FMI e do Banco Mundial. De acordo com o FMI, os deficits nas economias emergentes começaram a cair em 2010 - em alguns países, como o Brasil, em grande parte devido a receitas cíclicas - e a consolidação tende a se acelerar neste ano. O documento cita, entre outros países, medidas anunciadas recentemente pelo Brasil para atingir a meta de superavit primário (dinheiro reservado para o pagamento de juros e da amortização da dívida pública) de cerca de 3% do PIB (Produto Interno Bruto). No entanto, o FMI alerta que a redução dos déficits nas economias emergentes (tanto na América Latina quanto em outras regiões) vem apoiada pelo crescimento sustentado e, em alguns casos, por fatores como os altos preços das commmodities ou o grande fluxo de capitais. Caso esse quadro se reverta, "poderá deixar vulneráveis as posições fiscais" em muitos desses países, diz o texto. Segundo o relatório, o desafio é conjugar as necessidades de gasto mais urgentes, "como as necessárias para enfrentar os custos sociais derivados da alta de preços das matérias-primas", com as "considerações de sustentabilidade fiscal". O FMI menciona ainda "indícios" de que, diante de pressões fiscais crescentes, algumas economias estejam recorrendo a "artifícios contábeis" para cumprir suas metas fiscais, e diz que é necessário fortalecer as instituições fiscais. Economias avançadas O documento analisa como economias avançadas e emergentes estão lidando com dívida e finanças públicas após a crise mundial, e afirma que os riscos à sustentabilidade fiscal continuam elevados, já que avanços em algumas regiões "foram contrabalançados" por demoras na consolidação fiscal em outras partes do mundo. "Os coeficientes de endividamento público seguem aumentando na maior parte das economias avançadas, e as necessidades de financiamento chegaram a máximos históricos", diz o texto. "Projeta-se que o coeficiente médio de endividamento bruto do governo geral vai ultrapassar o marco de 100% pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial, e as necessidades brutas de financiamento alcançarão níveis sem precedentes." De acordo com o Fundo, a maioria das economias avançadas ainda precisa abordar o tema das pressões de gastos relacionados a aposentadorias e atendimento de saúde no médio e no longo prazo. O FMI diz que é "essencial" que se comece agora um processo de redução anual dos coeficientes de endividamento nas economias avançadas até chegar a "níveis prudentes" no médio prazo. Estados Unidos e Japão O relatório cita especialmente os Estados Unidos e afirma que o país precisa acelerar a adoção de medidas para reduzir seus coeficientes de endividamento. "A maioria das economias avançadas está reduzindo seus deficits fiscais neste ano, mas os Estados Unidos deixaram em suspenso o reajuste", diz o texto. O governo americano enfrenta atualmente um déficit calculado em US$ 1,4 trilhão (cerca de R$ 2,2 trilhões) em seu orçamento. O documento cita também o Japão, onde o ajuste fiscal já havia sido adiado antes mesmo do terremoto seguido de tsunami que arrasou o país no mês passado e que "deverá gerar custos fiscais adicionais". BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.