Atrelar remuneração de executivos a metas ambientais é chave para avançar na área, aponta pesquisa

Apenas 1% das companhias no mundo está no nível mais alto de atenção às questões climáticas; outras ‘alavancas’ são importantes, como atenção à cadeia produtiva e realização de um plano para a transição ecológica

PUBLICIDADE

Foto do author Luis Filipe Santos
Atualização:

As empresas que têm conseguido avançar na pauta ambiental têm a remuneração dos executivos como um ponto-chave na política para o tema. De acordo com a pesquisa CDP Corporate Healthcheck, realizada pela plataforma de dados climáticos CDP em parceria com a consultoria Oliver Wyman e o Fórum Econômico Mundial, 78% das companhias que estão no caminho certo para alcançar as metas climáticas atrelam o bônus dos executivos a esse resultado.

PUBLICIDADE

A pesquisa avaliou informações divulgadas ao CDP por meio de um questionário, totalizando 6,8 mil empresas que têm mais impacto entre as que reportaram em todas as regiões do planeta. No total, as participantes representam 67% da capitalização global em bolsas de valores.

No estudo, foram avaliadas cinco questões fundamentais para a relação da organização com o meio ambiente: transparência, governança, metas, estratégia e progressos para reduzir o impacto. Em cada uma delas, as companhias foram classificadas em quatro categorias: nível 1 (ficando para trás), nível 2 (atingindo o mínimo), nível 3 (mostrando ambição) e nível 4 (mapeando a mudança).

Análise sobre qual alavanca é mais importante depende do setor, mas atrelar remuneração dos executivos aos resultados ambientais é importante em todos Foto: Daniel Teixeira/Estadão

No total, apenas 10% das empresas tem ações tangíveis em todas as cinco áreas, e apenas 1% chegou ao nível mais alto em todas elas. No relatório, esse número foi considerado baixo, com algumas regiões do planeta, como África, América Latina e Oceania, tendo resultados ainda piores. A quantidade de companhias que está no caminho certo para conseguir atingir as metas climáticas chega a 35% em todo o globo.

Publicidade

Também foram analisadas quatro “alavancas”, consideradas importantes para levar as organizações na direção certa: remuneração de executivos, a existência de planos de transição climática, a precificação interna do carbono emitido e o engajamento da cadeia produtiva. Nelas, foi constatado que entre as empresas que estão no caminho certo, 78% vinculam a remuneração dos executivos aos resultados climáticos, enquanto entre as companhias que ficaram para trás, apenas 48% tomou essa ação.

Ainda foi visto que quase dois terços (64%) das empresas “pioneiras” já têm planos de transição climática, 41% precificam o carbono internamente e quase 9 em cada 10 (87%) trabalham em tópicos climáticos em toda a cadeia de valor com fornecedores e clientes.

Setores

As companhias precisam acionar todas as quatro alavancas, mas a importância de cada uma delas varia de acordo com o setor em que atuam. Por exemplo, para uma empresa de energia ou de cimento, calcular as emissões é fundamental, o que pode não ser tão importante para um escritório de advocacia ou contabilidade.

“Há uma diferença setorial definitiva. Aquelas que têm cadeias de suprimentos maiores e a compra de bens e serviços responde por uma grande parte de sua pegada (ambiental), o envolvimento do fornecedor é vital”, afirma Nicolette Bartlett, líder global de impacto do CDP. No entanto, ela ressalta que “a remuneração dos executivos e a governança em geral são absolutamente fundamentais em todos os setores”.

Publicidade

Brasil e América Latina

Entre as empresas brasileiras que participaram da pesquisa, a transparência se destaca, principalmente devido à regra implementada pela CVM que determina que o País será o primeiro a obrigar as companhias listadas em bolsa a divulgar os relatórios ambientais de acordo com o padrão da organização International Sustainability Standards Board (ISSB) — a obrigatoriedade começará em 2027, mas há quem busque se adiantar.

No entanto, Bartlett avalia que as organizações brasileiras ainda podem avançar muito mais nas outras áreas. “Se as empresas brasileiras quiserem estar preparadas para o futuro, elas precisarão expandir e criar mais profundidade em outras áreas ambientais. Será necessário focar em algumas de suas áreas climáticas, como governança e estratégia”, diz, ressaltando que não vê uma falta de preocupação das lideranças.

A criação de bons planos de transição ecológica é uma das alavancas que podem ser acionadas para avançar mais rápido e alcançar as metas. A autora da pesquisa destaca que o elemento de planejamento financeiro precisa estar presente sempre, desde o início do alinhamento da estratégia visando metas ambientais como empresa.

Regulação e dados

Como a adoção do padrão internacional da ISSB demonstra, as regulações têm papel fundamental em fazer com que as empresas caminhem na direção correta, se tornando o novo “mínimo” que elas precisam cumprir. “Tudo depende do tipo de regulação”, cita Bartlett. “Nenhum país está fazendo um trabalho brilhante nesse ponto, mas há países e blocos que realizam as melhores práticas (no momento)”, completa, mencionando a União Europeia e o Reino Unido como exemplo dos que avançaram, mas ainda tem muitas lacunas a preencher.

Publicidade

PUBLICIDADE

Para as empresas, a dica é aprender a coletar os dados de toda a cadeia produtiva para saber como agir de forma mais eficaz na transição ecológica, com o conhecimento de quais são os problemas.

E tudo bem se, no começo, a coleta das informações ainda não for perfeita. “Alguns de seus dados não serão ótimos no início. Mas a minha opinião é que você deve começar a trabalhar e aperfeiçoar seus dados com o tempo. Porque se você esperar para tentar obter os dados perfeitos em todo o sistema, vai esperar muito tempo antes de agir”, relata Bartlett. O importante, para as organizações, é ter uma noção para orientar as boas ações ambientais, assim como a criação de um plano, se ainda não tiver.

E, claro, é fundamental também que a alta liderança da companhia se engaje com o tema e dê prioridade para a pauta ambiental com os retornos financeiros. O relatório foi apresentado no Fórum Econômico Mundial como forma de buscar esse envolvimento. Hoje, porém, a realidade não é essa na maioria das empresas.

“Embora seja possível ver alguns dos líderes incorporando decisões positivas para a Terra em suas estratégias, a maioria não está incluindo o clima e a natureza em todas as áreas. Há mais empresas que estão apenas no mínimo neste momento. E isso precisa mudar porque, na verdade, é mais do que urgente que aconteça”, alerta a especialista do CDP.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para cadastrados.