As concessionárias de energia estão voltando as atenções para a criação de empresas de fibra óptica para incrementar o caixa e diversificar seus negócios. A CPFL, por exemplo, que, além de São Paulo, atua também em Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná, quer lançar uma unidade com esse foco até 2014. A mineira Cemig, que já está nesse ramo há algum tempo, vai ampliar a cobertura de sua rede de infraestrutura para 14 Estados. A corrida das elétricas por infraestrutura de telecomunicações tem história. A AES Eletropaulo recebeu R$ 1,6 bilhão com a venda da sua empresa de fibra ótica, a Atimus, para a TIM, em agosto deste ano. A operação despertou o apetite das concessionárias de energia para esse tipo de negócio e intensificou o assédio das empresas de telecomunicações sobre as elétricas. A CPFL e a Cemig têm recebido as mais diversas propostas das operadoras, que vão desde parcerias para os investimentos de criação ou ampliação dessas empresas ou até mesmo a iniciativa de fazer os aportes sozinhas, dando o "direito" às elétricas de usar essa rede para o que elas precisarem, como o monitoramento das linhas de transmissão. A dúvida das concessionárias, segundo fontes do setor, é qual a modalidade seria mais lucrativa, já que boa parte das atividades fora do negócio de energia é capturada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para deixar a conta de luz mais barata. A CPFL avalia a construção de uma rede de fibra óptica de 1,5 mil quilômetros, usando a estrutura das linhas de transmissão da companhia. A previsão de investimentos gira em torno de R$ 100 milhões. O uso dessa estrutura, "em princípio", será limitado ao consumo da própria empresa, segundo Ricardo Bombassaro, diretor de Engenharia e Gestão de Ativos da CPFL. "A ideia seria fazer já em 2012, 2013. Estamos fechando o plano, que será levado para o Conselho de Administração da empresa."Ainda estão na mesa de negociação, segundo o executivo, os modelos para investimentos em fibra óptica: capital só da CPFL ou parceria com operadoras de telecom. "Nosso objetivo é o negócio da nossa própria empresa. Se tiver parceria com alguma operadora de telecom, ótimo." Minas. A aquisição de transmissoras, como a espanhola Abengoa, em junho, incrementará cerca de 8 mil quilômetros de redes de fibra óptica de longa distância em 14 Estados da Cemig Telecom, o que quase triplicará a infraestrutura atual, de cerca de 3,5 mil quilômetros, dos quais 80% representam ativos da concessão. Na rede local, ou seja, na estrutura que chega à casa do consumidor final, a Cemig Telecom detém outros 4 mil quilômetros de fibra, que são 100% da subsidiária de telefonia, segundo Sérgio Belisário, diretor técnico da Cemig Telecom. Em 12 anos a Cemig Telecom ampliou sua cobertura de 17 para 70 municípios mineiros. Em 2010, teve lucro de R$ 28,3 milhões e investiu R$ 42,3 milhões. Este ano, os aportes para a companhia devem somar R$ 50 milhões. "A expectativa é que nossa receita chegue a R$ 150 milhões este ano, o que representa um crescimento de 13%. Sempre tem empresa de telecomunicações batendo à porta, em busca de parcerias e participação no capital", disse Belisário. O executivo ponderou, contudo, que esse tipo de negócio só pode ser feito mediante uma oferta pública. Nos próximos anos, a demanda por dados das empresas de energia só vai aumentar. Belisário chama a atenção para as redes inteligentes, as smart grid, que permitirão às concessionárias não só fazer a medição remota do consumo e controlar furto de energia, mas também ter acesso a informações valiosas dos consumidores. Ele explica que a distribuidora saberá se o consumidor tem uma máquina lava-louças, por exemplo, o que pode ensejar mensagens dirigidas, como ofertas de sabão para o equipamento. "Se você vê que a energia é secundária e o cliente é que é o negócio maior, não vai deixar esse trunfo só nas mãos das operadoras."