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Esperando Godot (ou em busca do iPad 2)

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Por Redação
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DEPOIMENTOPaulo Sampaiorepórter do Estado"The truck should be coming. Try tomorrow... Maybe at noon", dizia qualquer um dos vendedores da Apple da 5a. Avenida, em Nova York, a mais emblemática loja da marca, quando eu e o amigo que me acompanhava perguntávamos se o iPad 2 estava disponível. No dia seguinte, lá estávamos nós para ouvir o "tente amanhã" de novo. O horário da possível chegada do caminhão era flexível: podia ser meio dia, seis da manhã, três da tarde . Confesso que o marketing descarado, simples mas eficaz, me enfeitiçou a tal ponto que até mesmo eu, que honestamente não pensava no iPad como algo indispensável para a minha sobrevivência, me peguei procurando caminhões da Apple nas ruas de Manhattan.Aparentemente, os vendedores estavam treinados para sugerir que nós viéssemos no dia seguinte com uma expressão que misturava lamento e sadismo. "Call this number before coming", ainda completavam, tirando de um case pendurado no pescoço um cartão de visitas com um número. Desnecessário dizer que ninguém atendia no menu Godot do telefone da Apple.Lá pelo quinto dia - foram sete -, desencanamos (sem nunca desencanar de verdade, já que o apelo era pegajoso demais para permitir o abandono total da ideia).A segunda etapa da viagem foi Miami. Já completamente desencanados (risos), entramos em uma loja BestBuy e perguntamos, assim, por perguntar, se eles tinham iPad2. O "no, we don"t" veio estranhamente mal humorado, como se, mesmo sendo ele vendedor e supostamente estar interessado em vender, não deveria ser importunado com perguntas estúpidas.O marketing era tão perfeito que nos levou a achar que a culpa de querer um iPad era nossa! E era!No penúltimo dia em Miami, meu amigo resolveu comprar uma câmera Hello Kitty para a sobrinha de 8 anos. Entramos em outra loja BestBuy, perdida numa daquelas vias expressas. Enquanto ele ia atrás do brinquedinho, interpelei um vendedor . "Vocês tem o iPad 2?" perguntei, tirando uma poeirinha do ombro. "Um-hum", respondeu ele. "Todas as versões." E eu, com uma voracidade repugnante: "Inclusive o que "pega" no Brasil?" Ele: "A-hã. O sr. vai querer quantos?"Quantos!? Bom, a pergunta já era um prenúncio de que ele pretendia me empurrar acessórios como capinhas, protetorezinhos de telas... sem contar a garantia, claro, cerca de U$ 150. Comprei tudo, absolutamente derrotado, e na versão mais "potente", a de 64 GB. A ressaca veio já na saída da loja, quando me perguntei "como pude?", me sentindo um bêbado que não foi capaz de resistir ao sexo casual com alguém de quem, em condições normais, jamais chegaria perto. Para acudir minha alma atormentada, tive de evocar o apaziguante ditado inglês "All is fair in love and war..."

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