Da Standard Oil de John Rockefeller nos anos 1800, passando pela Railroad Commission of Texas em 1930, até a Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep), a partir de 1960, as instituições sempre tentaram controlar e estabilizar o mercado de petróleo em seu próprio benefício. Apenas raramente, diz Jason Bordoff, diretor do Centro de Política Energética Global da Universidade de Columbia, esse mercado comportou-se como um mercado normal, sujeito à lei da oferta e da procura, e não aos caprichos de um cartel. Agora se tornou um deles.
Tomemos como exemplo a oferta. Há um ano a Arábia Saudita recusou-se a autorizar a Opep a elevar os preços produzindo menos petróleo, na esperança de que o preço baixo tiraria os concorrentes, especialmente os produtores de petróleo de xisto americanos, dos negócios. Desde então, ela tem usado os custos baixos de produção para ficar com o pedaço maior do bolo. Os sauditas disputaram com a Rússia e membros da Opep a venda de petróleo para a China. Seth Kleinman, do Citibank, diz que a Arábia Saudita recentemente tentou substituir o petróleo russo que vai para refinarias na Suécia e Polônia e cortar os preços em toda a Europa.
Produtores com custos de produção mais altos, incluindo grandes empresas de petróleo de capital aberto e muitas companhias petrolíferas estatais rivais, também têm se comportado racionalmente, embora com relutância, cancelando pelo menos US$ 150 bilhões de investimentos este ano e prevendo mais cortes no próximo ano. Vai levar algum tempo para esta racionalização conduzir a uma produção menor, porque os projetos na área petrolífera levam muito tempo para serem concluídos e nesse ínterim os produtores naturalmente procuram contrabalançar os preços mais baixos produzindo mais a partir das suas instalações existentes. Mas o investimento menor acabará reduzindo a produção.
Tensões geopolíticas que às vezes provocam o caos no mercado de petróleo estiveram relativamente ausentes este ano, em parte porque a Opep mais ou menos abandonou suas quotas. O que significa que disputas dentro do cartel que antes levavam muitos a infringir os limites de produção estabelecidos, como a guerra por procuração no Iêmen entre Arábia Saudita e o Irã, não afetaram os preços.
Pelo contrário, fatos que estão provocando palpitações nos traders vêm tornando o bruto tão emocionante quanto o minério de ferro: greve de trabalhadores no setor petrolífero no Brasil; cortes dos investimentos programados do Iraque; emissão de títulos sauditas que podem não suportar os preços baixos por muito mais tempo.
A demanda também imprimiu sua marca. Como era esperado, a queda dos preços do petróleo vem impulsionando o consumo. Desde o ano passado, de acordo com a Agência de Energia Internacional (IRA na sigla em inglês), com sede em Paris, que representa os países consumidores de petróleo, os motoristas têm optado com mais frequência por “veículos maiores, que consomem mais combustível”, como os SUVs, especialmente nos EUA e na China. No geral, segundo a IEA, a demanda deve crescer 1,9% este ano, bem acima da média da década passada, de 0,9%.
Mas as nuances são tão interessantes quanto o conjunto no geral. A IEA afirma que mesmo no mundo em desenvolvimento, o volume de petróleo consumido por unidade de produção econômica está declinando. O crescimento da China, em particular, está menos faminto de energia. Os padrões de economia de combustível podem não ter sido estabelecidos com obrigatoriedade, no entanto atinge três quartos de todos os veículos vendidos em todo o mundo. Analistas do setor começam a invocar o “pico da demanda” em oposição ao “pico da oferta” como um fator que poderá determinar a trajetória dos preços no longo prazo.
Em seu relatório anual “Perspectiva Energética Mundial”, publicado em 10 de novembro, a IEA prevê uma recuperação relativamente lenta da demanda e um declínio da oferta que poderão levar o preço do barril a US$ 80 em 2020. Mas a agência também ventilou um cenário alternativo em que o petróleo permaneceria numa faixa de US$ 50 a US$ 60 o barril até depois de 2020. Uma das principais razões seria o óleo de xisto americano, que não vem respondendo rapidamente às mudanças no preço como analistas supunham.
Mesmo depois de os preços do petróleo caírem no ano passado, a produção continuou a aumentar, processo que só recentemente começou a reverter. A IEA diz que este ajuste mais longo do que o esperado foi causado pela defasagem de alguns meses entre a perfuração de um poço e o seu faturamento (ou seja, o bombeamento de água e areia para quebrar a rocha de xisto, permitindo que o óleo aflore. Corte de custos e instrumentos de hedge para se proteger permitiram ao setor manter margens mesmo com a queda dos preços.
Uma grande dúvida é o quão rápido as indústrias aumentarão a produção novamente caso os preços do petróleo subam. A IEA mostra-se cética. Segundo ela, os bancos poderão relutar em financiar mais poços; levará tempo para mobilizar trabalhadores depois de recentes demissões; e outros fatores tornarão a produção do óleo de xisto mais problemática do que os entusiastas supõem. Acredita-se que a rápida deterioração dos campos de petróleo do xisto betuminoso vai produzir uma elevação dos custos mais rápido do que as novas tecnologias conseguiriam reduzi-los, limitando seu potencial a longo prazo. Isso deve soar como música aos ouvidos da Arábia Saudita. Mas os homens ligados ao xisto betuminoso constituem um grupo muito hábil, que compreende os mercados no mínimo tão bem quanto os sauditas. A batalha ainda não foi ganha.
© 2015 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. TRADUZIDO POR TEREZINHA MARTINO, PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.