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Executivo brasileiro é menos otimista com agenda ESG do que estrangeiros

Na pandemia, aumentou pressão para que CEOs e conselhos adotem ações ambientais, sociais e de governança; especialistas afirmam que posições do governo do País podem influenciar humor de líderes

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Foto do author Fernando Scheller
Foto do author Fernanda Guimarães

A pandemia de covid-19 serviu não só como um despertar para a atuação digital, mas também para mostrar que negócios precisam ter um propósito. Por isso, ao longo dos últimos 18 meses, um conceito representado por três letrinhas – o ESG (sigla em inglês para as atuações nas áreas ambiental, social e de governança) – virou mantra no alto escalão das organizações. Mas será que o discurso se reflete nas práticas do dia a dia das organizações? Nem tanto, na opinião dos próprios executivos brasileiros. 

Pesquisa da consultoria Russell Reynolds, referência em recrutamento de alto escalão, que testou o humor de 1,3 mil líderes globais no mundo todo – entre CEOs, conselheiros e diretores de grandes empresas – mostra que, quando o assunto é ESG, o brasileiro está mais pessimista do que a média global. Na amostra local, 53% dos executivos disseram ter confiança nas estratégias sociais, ambientais e de diversidade das companhias. 

O termo ESG refere-se a ativos que, além de aspectos financeiros, consideram os impactos ambientais, sociais e de governança. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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Todas as demais regiões atingiram índices de confiança acima de 60% no que se refere ao ESG. Mas o pessimismo dos brasileiros se destacou em outros aspectos, como os que medem a confiança em planos de sucessão e na boa relação entre conselhos de administração e corpo executivo.

Para Flávia Leão, diretora-geral da Russell Reynolds no País, a reticência em relação ao ESG pode ser explicada pela própria novidade do debate por aqui. De repente, o corpo diretivo de grandes empresas – não só multinacionais “modernas”, mas também negócios de capital nacional da velha economia – se viram obrigadas a endereçar não só a questão ambiental e social, mas também diversidade e inclusão. “Um executivo nos procurou, por exemplo, para dizer que não se sentia à vontade para tocar no tema diversidade”, diz Flávia. “Estamos fazendo muitos treinamentos nesse sentido.”

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Os executivos nacionais também se veem num dilema, com diferentes forças externas os puxando em direções opostas: enquanto bancos, fundos de investimento e parceiros de negócios colocam o ESG como condição para aportes ou compra de produtos, o governo federal vai na direção contrária, tanto no que diz respeito ao meio ambiente quanto a ações afirmativas. 

Esse descompasso faz com que o setor privado tenha de caminhar sozinho rumo ao futuro, afirma João Batista Nogueira, presidente da Evoltz, do setor de energia. “Algo que pode explicar o menor otimismo no Brasil é o fato de o governo brasileiro navegar na direção contrária”, diz o executivo, lembrando que essa falta de sintonia só se aprofundou com a pandemia de covid-19. “O setor privado está preparado (a abraçar o ESG).”

Na visão do presidente da Talenses Executive, também especializada no recrutamento de executivos do alto escalão, João Marcio Souza, a turbulência política e econômica do País tem aumentado o estresse que recai sobre os princpais executivos. “Isso reduz muito o nível de otimismo, e é algo muito ligado à agenda do nosso País.”

Segundo a sócia da ACE Governance, Cristiana Pereira, a pressão para acelerar a implantação de ações ESG afetou o mundo todo durante o isolamento social: “Talvez na Europa o assunto já esteja mais consolidado nas empresas e governos, mas, nos Estados Unidos, na Ásia e outras regiões, todos começaram olhar com mais atenção a partir da pandemia.”

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Substituição

Consultora em questões relacionadas a estratégias, inovação e cultura empresarial, Cristina Nogueira, aponta que esse otimismo mais baixo no Brasil pode estar relacionado à necessidade de renovação do “plantel” de líderes locais. Segundo ela, os altos executivos de hoje sabem que precisam passar o bastão para a próxima geração, que assumirá o leme para as grandes mudanças que obrigatoriamente terão de vir.

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