O presidente do Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos), Alan Greenspan, afirmou hoje, em depoimento ao Comitê Bancário do Senado, que o recente período de recessão da economia norte-americana parece estar concluído, embora acredite que a recuperação este ano não será tão vigorosa quanto as ocorridas nos períodos sequentes à recessões anteriores. "As evidências recentes sugerem que uma expansão econômica está a caminho", afirmou. Greenspan demonstrou maior otimismo em relação às perspectivas de curto prazo da economia do que no depoimento realizado na semana passada na Câmara. Segundo ele, "indicações próximas" sugerem que "a fase de contração do atual ciclo de negócios chegou próximo do final" e que os dados recentes sobre a economia ofereceram "sinais encorajadores" de que a demanda dos consumidores e das empresas "fotalecem-se". O presidente do Fed sugeriu que as autoridades monetárias do Fed continuam a pensar que a recuperação esse ano não será intensa o suficiente para provocar pressões inflacionárias preocupantes. Ele reiterou ainda que "certos fatores, como a ausência de saltos na demanda no setor de consumo, os significantes níveis de excesso de capacidade em várias indústrias, o enfraquecimento e fragilidade financeira entre alguns parceiros comerciais, e a persistente cautela nos mercados financeiros domésticos, devem frear o desempenho no curto prazo da economia". O presidente do Fed repetiu também as projeções de crescimento entre 2,5% a 3% nesse ano para a economia dos EUA. Japão Greenspan disse que a recuperação da economia dos EUA deverá melhorar a perspectiva econômica do Japão e de muitos países do sudeste asiático. "Imagino que se nós nos recuperarmos, e espero que os primeiros indicadores que estamos vendo agora sejam uma sugestão disso, é muito provável que será positivo para o Japão e para os países do sudeste da Ásia", disse. A economia japonesa está estagnada há mais de uma década e as dificuldades têm prejudicado as perspectivas de muitos países do sudeste asiático, que dependem do Japão como um mercado para as exportações. Muitos economistas acreditam que a estagnação japonesa irá persistir, e Greesnpan disse que "a previsão do Fed não é significativamente diferente". "Estamos sofrendo com o fato de o Japão estar num ambiente deflacionário", disse Greenspan. "Os preços continuam a cair de forma inexorável, e projetando o que está acontecendo, continua ser apenas uma persistente erosão". É difícil prever a perspectiva para o Japão porque os problemas econômicos são grandes e complexos, disse Greenspan. Produtividade Greenspan disse que é "pouco provável" que a produtividade norte-americana tenha crescido a uma taxa anual de 5,2% no quarto trimestre de 2001, conforme divulgou hoje o Departamento do Trabalho. Pela segunda vez em uma semana, Greenspan levanta dúvidas sobre a credibilidade do indicador de produtividade, dizendo que ele precisa ser revisado frequentemente. O Departamento do Trabalho elevou a estimativa de crescimento da produtividade para o quarto trimestre para 5,2%, de uma estimativa inicial de crescimento de 3,5%. Greenspan disse que estava cético quanto à revisão. "Não é apenas notavelmente forte, mas também muito pouco provável," disse Baby boomers O presidente do Federal Reserve disse que um estímulo fiscal não é essencial para uma recuperação econômica este ano. Ele exortou o Congresso a considerar a necessidade do país de economizar para pagar as aposentadorias dos "baby boomers" (geração dos nascidos ao final da 2ª Guerra Mundial até meados da década de 1960) enquanto contempla um pacote de estímulo. "Duvido muito se, a economia, não conseguir receber um estímulo, se ela iria se deteriorar", disse. "Acho que a questão crucial que o Congresso tem de fazer é julgar se o custo que será criado conseqüentemente para o orçamento e o nível da dívida é uma iniciativa fiscal útil". Greenspan disse que os EUA vão precisar de uma taxa de poupança maior e uma taxa mais elevada de investimento de capital para pagar a aposentadoria dos cidadãos nascidos entre 1946 e 1964. "Conforme os anos forem passando nesta década, iremos ficar cada vez mais alertas" dessa necessidade, disse. "O tempo está passando e em qualquer programa fiscal você terá de contemplar isso no mix político". O Congresso está analisando um pacote de estímulo fiscal que proporcionaria até US$ 43 bilhões em isenção fiscal para as empresas, bem abaixo do pacote de US$ 100 bilhões que os republicanos queriam. O pacote de estímulo também inclui uma prorrogação de 13 semanas na concessão de salário desemprego para os trabalhadores.
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