As exportações da China subiram 12,4% em março em comparação com o ano anterior, em uma onda de atividade de última hora, à medida que as empresas correram para evitar os aumentos nas tarifas impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump. No entanto, analistas preveem recuos acentuados nos próximos meses. As importações caíram 4,3%, totalizando US$ 211,3 bilhões em março, segundo informou a administração alfandegária. As exportações, por sua vez, somaram US$ 313,9 bilhões, gerando um superávit comercial de US$ 102,6 bilhões.
“Mas os embarques devem cair nos próximos meses e trimestres”, afirma Julian Evans-Pritchard, da Capital Economics, em um relatório. “Acreditamos que pode levar anos até que as exportações chinesas voltem aos níveis atuais.”
O superávit comercial da China disparou para um recorde de US$ 992,2 bilhões em 2024, e suas exportações subiram 5,4%, ajudando a compensar o crescimento lento dentro do país, que ainda se recupera da crise no setor imobiliário e dos impactos prolongados da pandemia de Covid-19.

Ao assumir como presidente dos EUA, Trump ordenou primeiro um aumento de 10% nas tarifas sobre importações chinesas. Depois, elevou esse percentual para 20%. Atualmente, a China enfrenta tarifas de 145% sobre a maioria de suas exportações para os EUA, segundo as revisões mais recentes da política comercial de Trump. Em resposta, a China impôs tarifas de 125% sobre produtos dos EUA e adotou outras medidas para atingir setores estratégicos, como restrições à exportação de minerais críticos usados na fabricação de alta tecnologia, como veículos elétricos.
A China teve um superávit comercial de US$ 27,6 bilhões com os EUA em março, com um aumento de 4,5% nas exportações. De janeiro a março, o superávit com os EUA foi de US$ 76,6 bilhões, mesmo com as exportações crescendo apenas 2,3% nos dois primeiros meses do ano.
“Importadores americanos experientes provavelmente anteciparam os aumentos tarifários previstos para abril em diante e adiantaram suas compras”, afirma o ING Economics em um relatório, mas essa tendência deve diminuir à medida que os importadores forem esgotando seus estoques e aguardando os desdobramentos da política comercial imprevisível dos EUA. “Como resultado, é provável que o comércio direto entre EUA e China despenque a partir de abril.”
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Impactos das tarifas
Os dados comerciais já mostram alguns impactos das tarifas mais altas: as exportações de produtos de menor valor agregado, como calçados e roupas, caíram, enquanto os embarques de chips de computador, eletrodomésticos e veículos dispararam. Os principais produtos exportados pela China nos primeiros três meses do ano foram máquinas eletrônicas — uma categoria ampla que inclui smartphones e laptops — e produtos de alta tecnologia, segundo o relatório.
Os dados alfandegários mostraram que as exportações totais da segunda maior economia do mundo cresceram 5,8% nos três primeiros meses do ano em relação ao mesmo período do ano anterior, enquanto as importações caíram 7%, resultando em um superávit comercial de US$ 273 bilhões.
Na noite de sexta-feira, Trump isentou da nova tarifa a maioria dos bens relacionados à informática vindos da China, incluindo laptops, smartphones e os componentes necessários para fabricá-los — embora seu governo tenha dito que pretende anunciar medidas específicas nos próximos dias. Esses produtos representaram quase US$ 174 bilhões em importações dos EUA oriundas da China no ano passado.
Ainda assim, as tarifas severas dos EUA sobre produtos chineses levantaram dúvidas sobre se os exportadores chineses poderão acabar desviando suas mercadorias para outros mercados estrangeiros, desistindo dos consumidores americanos devido ao fato de que as taxas de importação mais do que duplicaram.
Os maiores aumentos nas exportações em março foram para os vizinhos do Sudeste Asiático, que viram o valor em dólar das remessas da China crescer 8% em relação ao ano anterior. As exportações para a África subiram mais de 11%, e para a Índia, quase 14%.
“O céu não vai cair”
Um porta-voz da administração alfandegária, Lyu Daliang, disse que a China enfrenta uma “situação externa complexa e severa”, mas que “o céu não vai cair”. Ele destacou as opções diversificadas de exportação da China e o enorme mercado doméstico.
Questionado sobre a queda nas importações chinesas, ele disse a repórteres em Pequim que a China tem sido o segundo maior importador do mundo por 16 anos consecutivos, aumentando sua participação nas importações globais de cerca de 8% para 10,5%. “Atualmente e no futuro, o espaço de crescimento das importações da China é enorme, e o grande mercado chinês continuará sendo uma grande oportunidade para o mundo”, afirmou.
O presidente chinês, Xi Jinping, estava visitando o Vietnã nesta segunda-feira como parte de um giro regional que também o levará à Malásia e ao Camboja — uma oportunidade para reforçar os laços comerciais com outros países asiáticos que também enfrentam tarifas potencialmente altas. Na semana passada, porém, Trump adiou a implementação dessas tarifas por 90 dias. As exportações da China para o Vietnã saltaram quase 17% no mês passado em relação ao ano anterior, enquanto as importações caíram 2,7%.