Dois investidores estrangeiros - um "hedge fund" em Nova York e outro baseado em Londres - estão coincidentemente numa missão de avaliar o ponto de virada do Brasil. Em conversa com esta coluna, um executivo do fundo americano mostrou-se desanimado com a economia brasileira e observou que muitos investidores passaram a olhar a Argentina com mais otimismo do que o Brasil. "O ponto em questão é a direção das coisas", diz o gestor americano.
Segundo ele, a visão é de que a direção que o Brasil vem tomando é negativa, com a perda do grau de investimento da sua classificação de risco soberano apenas como a confirmação de uma deterioração do quadro de política econômica e do ambiente de negócios desde que a presidente Dilma Rousseff assumiu o poder, em 2011.
Já na Argentina, espera-se uma mudança nos rumos da condução do país, mesmo se Daniel Scioli, candidato do partido da presidente Cristina Kirchner, vença as eleições presidenciais marcadas para 25 de outubro. É que Scioli já sinalizou uma mudança - embora lenta - das políticas adotadas por Cristina e que foram consideradas desastrosas pelos investidores.
Scioli lidera as pesquisas de opinião, com o candidato oposicionista Mauricio Macri, o queridinho dos investidores, num distante segundo lugar.
"Mesmo com toda a correção nos preços dos ativos brasileiros nos últimos tempos, a Argentina ainda está mais barata do que o Brasil", observa o gestor americano numa conversa por telefone de seu escritório em Nova York. "Enquanto a expectativa é de que a Argentina caminhe para uma correção de rumos, não se vê isso de forma clara no Brasil."
Esse foi, aliás, o tema da conversa que o gestor do fundo britânico vem mantendo com a equipe econômica, com parlamentares, analistas políticos e formadores de opinião.
"As pessoas estão bem mais pessimistas no Brasil do que eu esperava", conta o gestor britânico.
Em recente viagem a Brasília, um dos interlocutores deste gestor lhe traçou três cenários de curto prazo para o Brasil, mas chegou a admitir não ter uma confiança de que o seu cenário base é o mais plausível de se materializar tamanha instabilidade política e econômica.
"O problema é que ninguém vê a luz ao fim do túnel", diz o gestor britânico, numa conversa telefônica de seu escritório em Londres.
É aí que reside o foco deste investidor: tentar definir um ponto de inflexão, uma virada no cenário brasileiro que possa deflagrar uma mudança de patamar nos preços dos ativos.
Nesse aspecto, o executivo americano e seu colega britânico fizeram a este colunista perguntas semelhantes:
Qual o catalisador político que levaria adiante um processo de impeachment da presidente Dilma?
Em avançando um pedido de impeachment no Congresso, quanto tempo o País estaria suspenso por esse processo, incluindo a defesa da presidente?
Quais as forças políticas que eventualmente poderiam assumir o poder, mais particularmente se um governo liderado pelo PMDB teria o endosso do PSDB?
Um governo do PMDB levaria adiante uma correção de rumos da política econômica, numa guinada ortodoxa definitiva, que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, não conseguiu?
Com a presidente Dilma se mantendo no cargo e terminando seu mandato em 2018, o ex-presidente Lula seria um candidato ainda viável?
Como se vê, as perguntas dos dois investidores estrangeiros concentraram-se no cenário político e na tentativa de conseguir enxergar algum horizonte de médio prazo para o País.
Já na Argentina, o otimismo deles com o fim do governo Cristina Kirchner é palpável, embora ainda prematuro.
Isso porque se o Brasil, apesar da correção forte na sua moeda, na Bovespa e nos juros futuros, ainda está mais caro do que a Argentina é porque isso é um reflexo do ambiente institucional brasileiro, considerado mais sólido do que o do seu vizinho ao sul.
A começar pela imprensa livre no Brasil.
Este colunista, por exemplo, nunca sofreu qualquer tipo de pressão, apesar de críticas fortes a várias decisões de política econômica do governo Dilma.
E esse é um valor que não se pode "take for granted", como os estrangeiros admitiram a esta coluna, ou seja, não dá para menosprezar essa liberdade como força subjacente do mercado brasileiro.