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Professor de Finanças da FGV-SP

Consequências de falas inconsequentes: investidores reavaliam estratégias de alocação de ativos

Enquanto Trump usa instrumentos como forma de negociação, as consequências acontecem no mundo real, como o aumento de gastos militares por parte dos países europeus

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Foto do author Fabio Gallo

Na era da pós-verdade, as narrativas são emocionais e ideológicas, superando fatos objetivos. Isso fica claro quando assistimos ao recente discurso do presidente Trump no Congresso americano enfatizando a sua agenda Make America Great Again (Maga). Ele abordou temas como políticas tarifárias, imigração e relações exteriores, especialmente a situação na Ucrânia. No entanto, a fala do presidente veio repleta de dados falsos.

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Uma das pérolas mencionadas foi de que nos EUA há milhões de americanos com mais de 100 anos que estão recebendo previdência social, citou inclusive que 130 mil pessoas com mais de 160 anos estavam recebendo benefícios. Outra foi que a imigração ilegal “destruiu” Aurora, no Colorado, e Springfield, em Ohio.

Não há espaço aqui para mencionar todas as falsidades ou exageros que Trump cometeu nesse discurso e em outras manifestações públicas. Trata-se de um verdadeiro Political Showbiz. Mas que não é sem efeito.

Em discurso no Congresso, Trump tratou de temas como políticas tarifárias, imigração e relações exteriores, especialmente a situação na Ucrânia Foto: Ben Curtis/AP

Enquanto Trump usa esses instrumentos como forma de negociação, as consequências acontecem no mundo real. As ações e declarações sobre a guerra entre Ucrânia e Rússia levaram a aumento de gastos militares por parte dos países europeus. Nesta semana foi fechado um plano de € 800 bilhões com essa finalidade. Somente a Alemanha planeja criar um fundo de € 500 bilhões para modernizar suas infraestruturas de transporte, energia e digital, além de fortalecer suas capacidades de defesa. Esse crescimento orçamentário deve levar ao aumento de 0,2 ponto porcentual no PIB do país. Mas haverá maior endividamento público para financiar os investimentos. Assim, o país terá de flexibilizar sua regra constitucional conhecida como “freio da dívida”, que tem o objetivo de assegurar finanças públicas sustentáveis.

Essa mudança de paradigma fez com que os títulos públicos da Alemanha para 30 anos registrassem a maior alta em um dia desde a reunificação, em 1990, e a Bolsa alemã registrasse alta de 3,6%. O crescimento dos gastos pode trazer problemas para a sustentabilidade fiscal e afetar as decisões orçamentárias do país. A mudança de política fiscal na Alemanha com tarifas comerciais implementadas por Trump trouxe aumento do apetite ao risco por parte dos investidores no cenário internacional. Como consequência, os títulos globais são vendidos e os investidores estão reavaliando estratégias de alocação de ativos.

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Esse novo cenário deve beneficiar o mercado de capitais e estratégias que reflitam a procura dos investidores por equilíbrio entre risco e retorno em um ambiente incerto, buscando mitigação de riscos e, ao mesmo tempo, aproveitando oportunidades.

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