O Brasil padece de uma anomalia: o governo é mal avaliado por mais da metade da população, mas não existe oposição de verdade.
Nesse contexto, se eu contar com a paciência do leitor para acompanhar o raciocínio exposto a seguir, poderemos entender por que, apesar do crescimento do PIB de mais de 3% em 2024, o mercado ficou nervoso e as taxas de juros, tão elevadas.
Tarcísio de Freitas foi um grande vencedor das eleições municipais de outubro, mas ele sinaliza que sua pretensão é ser reeleito. Não é o caso de Ronaldo Caiado, que, tendo sido reeleito para o cargo em 2022, não poderá mais concorrer ao governo do Estado, e, com 40 anos de política nas costas, é natural que tente disputar o Planalto.
O governador é um político tarimbado, bom debatedor, hábil nas articulações e se apresentaria com dois trunfos importantes perante o eleitorado.
O primeiro, o de ter tido uma política de segurança bem avaliada, com bons indicadores, num país em que o tema do combate à violência tem sido o destaque no ranking de prioridades do eleitor. E o segundo, o fato de o Estado ter tido a maior nota no Ideb de 2024, o que levou o governador a declarar que Goiás tem a melhor educação do Brasil.
Seria um adversário respeitável para Lula em 2026. Exatamente por isso, meu palpite é que o presidente usará contra ele a mesma arma que FHC usou contra Itamar Franco em 1998, quando o PMDB lhe negou a legenda para concorrer ao Planalto. Nesse caso, Caiado, se for candidato, teria de sair por um partido pequeno, com chances muito menores.
A estratégia presidencial será confiar que Tarcísio fique em São Paulo e tentar negar a legenda para Caiado concorrer pelo União Brasil, para então vencer a direita tradicional por WO, deixando-a de fora da disputa.
O ideal para ele seria enfrentar o bolsonarismo puro, seja porque apareça um juiz supremo para fazer com Jair Bolsonaro o que ocorreu com Lula anos atrás, recolocando-o no campo de jogo – algo pouco provável – ou porque um Bolsonaro inelegível adote o dedazo para apoiar outro Bolsonaro elegível.
É por isso que Lula age como candidato favorito para 2026 – e é essa a razão pela qual o País, se conservar as regras que estimulam mais gastos até 2030, é candidato a enfrentar uma crise econômica no governo Lula 4, que, em perspectiva, terá feições similares às do governo Dilma Rousseff 2. Antes, como agora, o PT se recusa a ajustar o gasto. Pode-se acusar o partido de tudo, menos de falta de coerência.