Fala de Bernanke sugere estímulos à economia, mas não esclarece método

Presidente da autoridade monetária traçou um cenário sombrio sobre a economia norte-americana, mas não chegou a dizer que novos estímulos serão adotados no futuro breve

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Por Álvaro Campos, da Agência Estado e com Dow Jones

SÃO PAULO - O discurso do presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, no Senado dos EUA hoje, deu poucos indícios sobre as próximas ações do banco central para tentar estimular a economia. O que está se tornando claro é que a autoridade monetária reconhece que o desempenho econômico está aquém do esperado e que algo deve ser feito se o cenário atual se mantiver. Mas qual seria a ferramenta apropriada e, principalmente, quando essa medida será anunciada, ainda permanece um mistério, até mesmo para os próprios formuladores de políticas. Bernanke reconheceu, inclusive, que há amplo debate dentro do próprio Fed sobre se, quando e como adotar mais estímulo.

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Em seu depoimento semestral no Comitê Bancário do Senado, Bernanke traçou um cenário sombrio sobre a economia norte-americana, mas não chegou a dizer que novos estímulos serão adotados no futuro breve. "A fala de Bernanke tinha pouca substância em relação aos próximos passos do Fed", resumiu Kevin Giddis, diretor de renda fixa da Raymond James/Morgan Keegan, ecoando a frustração que tomou conta dos mercados após as declarações iniciais de Bernanke no Senado.

Muitos analistas esperavam que, após o dado ruim sobre as vendas no varejo em junho, divulgado ontem, o Fed mostraria mais urgência em agir. Mesmo assim, o entendimento sobre o discurso de Bernanke hoje é de uma avaliação mais pessimista sobre a economia, o que deixa a porta aberta para novas ações de estímulo, embora o prazo continue incerto.

Se o banco central decidir mesmo adotar uma terceira rodada de relaxamento monetário quantitativo (QE3, na sigla em inglês), analistas acreditam que isso pode ocorrer a partir da reunião de política monetária de setembro, o que dará ao Fed tempo para observar mais dois relatórios sobre o mercado de trabalho (payroll) e analisar se a fragilidade registrada recentemente é temporária ou indica uma tendência duradoura.

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"Bernanke não discutiu nenhuma opção de relaxamento adicional no seu depoimento hoje, o que reduz a probabilidade de novas ações significativas na reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, em inglês) dos dias 31 de julho e 1º de agosto. Se o Fed fizer algo nessa reunião, seria uma prorrogação da previsão para a manutenção dos juros em níveis excepcionalmente baixos", afirmam os analistas do Deutsche Bank. "Nós ainda acreditamos que o QE3 virá em setembro", diz Kevin Walter, diretor de negociação de Treasuries do BNP Paribas.

Espaço para agir o Fed tem. Hoje, o Departamento do Trabalho divulgou que o índice de preços ao consumidor (CPI, em inglês) ficou estável em junho ante maio, após a retração de 0,3% no mês anterior. O núcleo do CPI, que exclui variações nos preços de alimentos e energia, subiu 0,2% em junho, repetindo a variação dos três meses anteriores. Bernanke afirmou hoje que "o risco inflacionário está relativamente baixo", e que existe um risco modesto de as pressões irem "para o lado deflacionário".

Bernanke também afirmou que o Fed tem outras ferramentas além do QE3. Uma opção seria reduzir a taxa de juros paga sobre o excedente das reservas dos bancos depositadas no banco central, conhecida como taxa IOER. Essa possibilidade ganhou força nos últimos dias, após o Banco Central Europeu (BCE) reduzir sua taxa de depósito para zero. O presidente do Fed lembrou que essa possibilidade já foi discutida pelo banco central no passado.

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