A falta de mão de obra qualificada é vista como a principal ameaça ao setor varejista brasileiro neste ano. Esse ponto supera riscos cibernéticos, instabilidade macroeconômica e até a inflação, tão preocupante nos últimos tempos, sobretudo a de alimentos. Esses são os principais resultados da 28ª Global CEO Survey da PwC, que fez um recorte sobre o setor.
A enquete consultou mais de 4.700 executivos em mais de 100 países, entre outubro e o início de novembro de 2024, a fim de avaliar as expectativas dos negócios para 2025. É a primeira vez que a falta de mão de obra lidera o ranking das ameaças na pesquisa feita pela consultoria. Segundo o trabalho, 41% dos executivos do varejo apontam a escassez de mão de obra qualificada como o principal problema, enquanto para os demais setores do País essa marca é de 30%.

“Diante do baixo nível de desemprego, a falta de profissionais para o chão de loja é muito relevante para o varejo”, afirma Luciana Medeiros, sócia e líder da indústria de Consumo e Varejo da PwC.
Entre as demais ameaças levantadas pelos executivos estão os riscos cibernéticos (31%), inflação (28%), instabilidade macroeconômica (26%) e mudanças climáticas (23%).
Neste ano, 59% dos líderes do varejo pretendem contratar, uma marca que supera a média nacional, que inclui outros segmentos (53%).
Inteligência artificial
O uso da inteligência artificial (IA) generativa também aparece como um ponto de destaque entre os executivos do varejo. Segundo a pesquisa, 63% deles relatam ganhos de eficiência como a IA generativa e 41% registram aumento de receita com a venda de produtos e serviços.
Além disso, 82% dos CEOs pretendem investir na integração da IA para o desenvolvimento de competências e o aprimoramento da força de trabalho. Esse resultado está bem acima da média nacional para todos os setores, que é de 46%.
Apesar do avanço do uso da IA no varejo e da predisposição para continuar investindo nessa ferramenta, Luciana observa que esse instrumento não vai suprir a falta de mão de obra, que é a principal ameaça do setor no momento.
“O consumidor brasileiro aceita a inteligência artificial, mas com um toque humano”, afirmou a executiva. Ela lembra que esse foi um dos pontos de destaque na NRF, a principal feira de varejo, realizada nos Estados Unidos, este mês, que reuniu lideranças globais do setor.
Otimismo cauteloso
Outra constatação da pesquisa é que 62% dos executivos do setor de consumo no Brasil esperam uma aceleração da economia local nos próximos meses. É uma marca quase dez pontos porcentuais abaixo da média nacional de todos os setores (73%).
“Trata-se de um otimismo cauteloso”, pondera Luciana. Entre os fatores que contribuem para a maior cautela por parte dos varejistas, ela aponta as preocupações sobre a política e economia local e também sobre os rumos da economia dos Estados Unidos, agora sob a administração do governo de Donald Trump.
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Um ponto de destaque é que os executivos já admitem a necessidade de reinvenção para garantir a sustentabilidade dos negócios. Segundo a pesquisa, 30% dos CEOs de empresas de consumo acreditam que suas companhias não serão viáveis economicamente sem mudanças significativas. Nesse aspecto, as questões climáticas e do meio ambiente ganham relevância.
Apesar de o varejo não guardar uma relação tão direta com o meio ambiente comparado a outros setores, executivos já constataram que esse tema virou prioritário, sobretudo quando se avalia resultados. A pesquisa aponta que 51% dos executivos relatam que investimentos em baixo impacto climático levaram a redução de custos. Nesse rol estão eficiência energética, redução no uso de embalagens, por exemplo, observa Luciana.